Desde
a forma de se portar, de escolher o que vestir, o que falar, o que comprar e
até mesmo na hora do lazer, através dos filmes, livros e séries, os indivíduos
são intensamente expostos e influenciados por uma cultural ocidental
hegemônica, responsável pelo estabelecimento de padrões que induzem essa
tendência de unificação. O denominado “American way of life” se constitui um exemplo tácito de tal
hegemonização, ao difundir, ao redor do globo, o modo de vida e a visão de
mundo dos norte-americanos, propagando uma cultura na qual a realização pessoal
estaria atrelada à busca por padrões de consumo previamente definidos. Nesse
sentido, tal uniformização se relaciona diretamente ao conceito de coesão
social, proposto pelo sociólogo Emile Durkheim, segundo o qual a formação da
consciência coletiva, através da generalização de paradigmas, seria essencial
para evitar o que ele chama de anomia, isto é, a desagregação entre os grupos
sociais. A partir desse cenário, observa-se que tal consciência coletiva se
mostra intensamente associada à conjuntura de dominação no corpo social, e que
gera reflexos ainda no contexto atual
É
cabível demonstrar, inicialmente, como os postulados de Durkheim em relação à
influência da coletividade na conduta individual se relacionam às estruturas de
poder hodiernas. Sob
essa perspectiva, segundo o pensador, as ações individuais não podem ser
dissociadas do comportamento público, uma vez que elas são intrinsicamente
influenciadas pela consciência coletiva, ou seja, moldam-se a partir do
conjunto de costumes e sentimentos compartilhados em comum pela comunidade. Tal
consciência se estabelece a partir da dominação de certos pensamentos e ações
das classes no centro do poder sobre os demais. Como exemplo dessa relação,
segundo a escritora portuguesa Grada Kilomba, em seu livro “Memórias de
plantação: episódios de racismo no cotidiano”, as diversas formas de
discriminação racial ao longo do tempo e na atualidade, se relacionam
diretamente ao modo como a produção de conhecimento da população branca, que
historicamente monopolizou a estruturas de poder, passou a ser internalizada no
tecido social e a compor a consciência coletiva. Assim, o pensamento coletivo,
refletindo a centralidade da branquitude nos meios sociais, não só é moldado
por tal dominação, como também a perpetua.
Ademais,
é válido evidenciar a influência da consciência coletiva sobre a população
moderna. Nesse sentido, o avanço de movimentos reacionários contemporâneos,
opondo-se a questões de grande relevância para a promoção da igualdade, como a
garantia dos direitos da população feminina, negra e LGBTQIA+, partem de
entendimento de que tais pautas contrariam os preceitos morais socialmente
estabelecidos e, logo, não se submetem às regras sociais. Tal modo de
pensamento, nocivo para a promoção da justiça social, se associa aos preceitos
de Durkheim, já que, segundo ele, as condutas que se desvirtuam das normas
coletivas devem ser reprimidas a fim de se garantir a coesão social. Também, a
disseminação dos atuais padrões de beleza e de felicidade associada à
acumulação de capital, ao provocar o apagamento da diversidade e a
uniformização das condutas e modos de vida, vão ao encontro dessa
homogeneização proposta pelo sociólogo.
Conclui-se,
em suma, que a consciência coletiva atua de modo ímpar na definição da conduta
social e possui direta relação com as estruturas de poder. Mediante esse
cenário, a formação de uma sociedade pautada no respeito e na igualdade parte
da promoção de uma educação crítica, capaz de originar uma solidariedade
coletiva que tenha a valorização da diversidade como elemento fundamental.
Eduardo Garcia da Silva
RA: 231220324
1º Ano – Direito Noturno
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