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domingo, 9 de abril de 2023

O papel da consciência coletiva na perpetuação de dominações

 

            Desde a forma de se portar, de escolher o que vestir, o que falar, o que comprar e até mesmo na hora do lazer, através dos filmes, livros e séries, os indivíduos são intensamente expostos e influenciados por uma cultural ocidental hegemônica, responsável pelo estabelecimento de padrões que induzem essa tendência de unificação. O denominado “American way of life” se constitui um exemplo tácito de tal hegemonização, ao difundir, ao redor do globo, o modo de vida e a visão de mundo dos norte-americanos, propagando uma cultura na qual a realização pessoal estaria atrelada à busca por padrões de consumo previamente definidos. Nesse sentido, tal uniformização se relaciona diretamente ao conceito de coesão social, proposto pelo sociólogo Emile Durkheim, segundo o qual a formação da consciência coletiva, através da generalização de paradigmas, seria essencial para evitar o que ele chama de anomia, isto é, a desagregação entre os grupos sociais. A partir desse cenário, observa-se que tal consciência coletiva se mostra intensamente associada à conjuntura de dominação no corpo social, e que gera reflexos ainda no contexto atual

                É cabível demonstrar, inicialmente, como os postulados de Durkheim em relação à influência da coletividade na conduta individual se relacionam às estruturas de poder hodiernas. Sob essa perspectiva, segundo o pensador, as ações individuais não podem ser dissociadas do comportamento público, uma vez que elas são intrinsicamente influenciadas pela consciência coletiva, ou seja, moldam-se a partir do conjunto de costumes e sentimentos compartilhados em comum pela comunidade. Tal consciência se estabelece a partir da dominação de certos pensamentos e ações das classes no centro do poder sobre os demais. Como exemplo dessa relação, segundo a escritora portuguesa Grada Kilomba, em seu livro “Memórias de plantação: episódios de racismo no cotidiano”, as diversas formas de discriminação racial ao longo do tempo e na atualidade, se relacionam diretamente ao modo como a produção de conhecimento da população branca, que historicamente monopolizou a estruturas de poder, passou a ser internalizada no tecido social e a compor a consciência coletiva. Assim, o pensamento coletivo, refletindo a centralidade da branquitude nos meios sociais, não só é moldado por tal dominação, como também a perpetua.

                Ademais, é válido evidenciar a influência da consciência coletiva sobre a população moderna. Nesse sentido, o avanço de movimentos reacionários contemporâneos, opondo-se a questões de grande relevância para a promoção da igualdade, como a garantia dos direitos da população feminina, negra e LGBTQIA+, partem de entendimento de que tais pautas contrariam os preceitos morais socialmente estabelecidos e, logo, não se submetem às regras sociais. Tal modo de pensamento, nocivo para a promoção da justiça social, se associa aos preceitos de Durkheim, já que, segundo ele, as condutas que se desvirtuam das normas coletivas devem ser reprimidas a fim de se garantir a coesão social. Também, a disseminação dos atuais padrões de beleza e de felicidade associada à acumulação de capital, ao provocar o apagamento da diversidade e a uniformização das condutas e modos de vida, vão ao encontro dessa homogeneização proposta pelo sociólogo.

                Conclui-se, em suma, que a consciência coletiva atua de modo ímpar na definição da conduta social e possui direta relação com as estruturas de poder. Mediante esse cenário, a formação de uma sociedade pautada no respeito e na igualdade parte da promoção de uma educação crítica, capaz de originar uma solidariedade coletiva que tenha a valorização da diversidade como elemento fundamental.

Eduardo Garcia da Silva

RA: 231220324

1º Ano – Direito Noturno

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