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domingo, 9 de abril de 2023

Da consciência coletiva à colonização do conhecimento

   Quando casos de violência contra povos originários de alguma região (mas especialmente América Latina) ganha relativa repercussão, entre os discursos sobre o que fazer para solucionar os conflitos entre sociedades diferentes, nota-se uma postura tutelar até mesmo no discurso progressista, isto é, os grupos que não seguem à risca o modo de vida ocidental e branco não seria plenamente capaz de propor o melhor para sua existência e manutenção, o que implicaria na necessidade de defesa por parte do segmento hegemônico, que por vezes não se incomoda ao se referir às populações autóctones como ''nossos índios'', repetindo a lógica de dominação que se estende há séculos.

  A princípio, vale destacar a noção intrínseca de que a sociedade branca possui o melhor método epistemológico, e logo, a verdade alicerçada na ''infalível'' ciência. De certa forma, destaca-se o papel da educação formal na consolidação desse discurso, o que caracteriza como produto de um fato social e pertencente à consciência coletiva, conceitos elaborados pelo sociólogo francês Émile Durkheim. Apesar dessa concepção pressupor a supremacia do conhecimento branco, é inegável que se estende em outros grupos étnicos colonizados por brancos, à medida que essa ideia serve eficientemente no projeto de subjugação de um povo sobre o outro, é impossível desvencilhar a ideia de que o saber é poder, principalmente quando usado para invalidar outros saberes produzidos em ambientes que não os dominantes.

  Não obstante, as ideias de cientistas sociais brancos que tentam desenvolver perspectivas não coloniais sobre África, América latina e Ásia e seus inúmeros povos são incapazes de superar o discurso e a violência da colonização no pensamento, justamente porque tais cientistas estão construídos em fatos sociais que reproduzem a relação de superioridade e impossibilidade de ser questionado por um não-branco de forma científica. Nesse sentido, a psicóloga portuguesa Grada Kilomba enfatiza que a/o subalterna(o) possui o conhecimento a respeito de si e o que o cerca que o dominador desconhece e por vezes invalida por não ter surgido nas bases coloniais, percebe-se que a produção de conhecimento está ligada à consciência coletiva e submetida aos fatos sociais que ocorrem e moldam a todos, e ainda que o pensamento colonial está sujeito a vícios e erros como os quais subjuga, e que não devem necessariamente se invalidar, mas denotar os limites de cada e a possível integração de conhecimentos de origem distinta. 

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