O Silenciamento como Fato Social
Segundo o sociólogo francês, Émile
Durkheim, o fato social é a realidade à
qual os indivíduos são inseridos desde o nascimento, como família, religião,
instituições de ensino, cultura, governo, ou seja, tudo aquilo que deve ser
realizado por afinidade, influência ou coerção. Para o autor, os fenômenos sociais ocorrem porque a sociedade é um organismo vivo, e os
valores que a compõem precedem os indivíduos. A valorização de certos corpos e
culturas em detrimento de outras em um mundo pós globalização pode ser
considerado um fato social, o que é explorado nas obras de Grada Kilomba e
Chimamanda Ngozi Adichie.
“Qual conhecimento é reconhecido como
tal? E qual conhecimento não o é? Quem é reconhecido como alguém que tem
conhecimento? E quem não é? Quem
pode produzir, ensinar conhecimento? Quem pode performá-lo? E quem não pode?”.
Tais indagações propostas pela escritora e psicóloga portuguesa, Grada Kilomba,
procuram explicitar dinâmicas de apagamento e silenciamento relacionadas à
raça, gênero, sexualidade e pós-colonialismo. Ao questionar quem pode ou não
possuir conhecimento, a artista não só ressalta que ao longo dos tempos certos
grupos foram privados de voz e movimentação, como também propõe um novo prisma
social, “fertilizando
sementes para criação de novos mundos.”
Já a escritora angolana Chimamanda
Ngozi Adichie aborda a temática a partir de uma visão sul global. Em seu livro
“O perigo de uma história única”, a autora discorre sobre o fato de que quando
criança só conseguia enxergar personagens literários brancos e com hábitos britânicos,
e por isso tinha dificuldades de escrever histórias sobre si e seus
semelhantes. “A história
única cria estereótipos, e o problema com os estereótipos não é que sejam
mentira, mas que são incompletos. Eles fazem com que uma história se torne a
única história.” Chimamanda ainda denuncia que embora hoje sejam contadas
histórias sobre os continentes africanos e asiáticos, essas histórias, de um
ponto de vista etnico-culural, sempre vêm imbuídas de filtros americanizados ou
europeus, quase como uma tentativa de neutralizar as diferenças culturais.
Assim, duas escritoras, provenientes
de continentes distintos, conectadas apenas pela feminilidade e negritude,
escrevem sobre a importância da pluralidade e a necessidade de diversificação
em relação a espaços de fala e escuta. O perigo de uma história única é que
essa, além de ser incompleta, geralmente também é arbitrária, e o silenciamento
de certos grupos e corpos em um mundo globalizado e pós-colonial pode levar a
marginalização e assassinato destes. Dessa forma, a disputa de narrativas e do
consciente coletivo deve ser feita, visando uma abordagem sociocultural cada
vez mais inclusiva e menos singular.
Geovanna Gonçalves Peniche - 1° ano Direito (Matutino) - RA: 231222874
Nenhum comentário:
Postar um comentário