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domingo, 9 de abril de 2023

 O Silenciamento como Fato Social

        

       Segundo o sociólogo francês, Émile Durkheim, o  fato social é a realidade à qual os indivíduos são inseridos desde o nascimento, como família, religião, instituições de ensino, cultura, governo, ou seja, tudo aquilo que deve ser realizado por afinidade, influência ou coerção. Para o autor, os  fenômenos sociais ocorrem porque a sociedade é um organismo vivo, e os valores que a compõem precedem os indivíduos. A valorização de certos corpos e culturas em detrimento de outras em um mundo pós globalização pode ser considerado um fato social, o que é explorado nas obras de Grada Kilomba e Chimamanda Ngozi Adichie.

        “Qual conhecimento é reconhecido como tal? E qual conhecimento não o é? Quem é reconhecido como alguém que tem conhecimento? E quem não é? Quem pode produzir, ensinar conhecimento? Quem pode performá-lo? E quem não pode?”. Tais indagações propostas pela escritora e psicóloga portuguesa, Grada Kilomba, procuram explicitar dinâmicas de apagamento e silenciamento relacionadas à raça, gênero, sexualidade e pós-colonialismo. Ao questionar quem pode ou não possuir conhecimento, a artista não só ressalta que ao longo dos tempos certos grupos foram privados de voz e movimentação, como também propõe um novo prisma social, “fertilizando sementes para criação de novos mundos.”

         Já a escritora angolana Chimamanda Ngozi Adichie aborda a temática a partir de uma visão sul global. Em seu livro “O perigo de uma história única”, a autora discorre sobre o fato de que quando criança só conseguia enxergar personagens literários brancos e com hábitos britânicos, e por isso tinha dificuldades de escrever histórias sobre si e seus semelhantes. “A história única cria estereótipos, e o problema com os estereótipos não é que sejam mentira, mas que são incompletos. Eles fazem com que uma história se torne a única história.” Chimamanda ainda denuncia que embora hoje sejam contadas histórias sobre os continentes africanos e asiáticos, essas histórias, de um ponto de vista etnico-culural, sempre vêm imbuídas de filtros americanizados ou europeus, quase como uma tentativa de neutralizar as diferenças culturais.

         Assim, duas escritoras, provenientes de continentes distintos, conectadas apenas pela feminilidade e negritude, escrevem sobre a importância da pluralidade e a necessidade de diversificação em relação a espaços de fala e escuta. O perigo de uma história única é que essa, além de ser incompleta, geralmente também é arbitrária, e o silenciamento de certos grupos e corpos em um mundo globalizado e pós-colonial pode levar a marginalização e assassinato destes. Dessa forma, a disputa de narrativas e do consciente coletivo deve ser feita, visando uma abordagem sociocultural cada vez mais inclusiva e menos singular.

Geovanna Gonçalves Peniche - 1° ano Direito (Matutino) - RA:  231222874

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