Ainda
na Antiguidade Clássica, o exercício científico possuía funções contemplativas,
sem muita contribuição no âmbito prático da vida humana. Nesse sentido, René
Descartes e Francis Bacon, dois pilares importantes no que diz respeito à construção
da Ciência Moderna, a fim de estruturar um saber capaz de transformar a
realidade concreta e, ademais, insatisfeitos com a inutilidade das especulações
da filosofia tradicional, propuseram meios pautados na racionalidade para
alcançar o conhecimento verdadeiro.
Nessa
conjuntura, René Descartes, visando romper com tal inoperância dos clássicos e
superar as formas supersticiosas - e vigentes, até então - de conhecer o mundo,
articulou um método alicerçado pelo ato de duvidar. Dessa forma, como presente
em sua obra, o autor acreditava que, ao duvidar metodicamente de tudo, em um
momento encontraria um saber incontestável, e esse seria verdadeiro. Assim, chegou
a uma nova conclusão: a existência do homem é certificada pela atividade de
pensar, ou seja, o corpo não se faz necessário para tal garantia e então, por
isso, “Penso, logo existo”.
Outrossim,
Francis Bacon e Descartes, embora tenham objetivos equivalentes, divergem em
relação ao papel dos sentidos. Nesse viés, Bacon, em sua produção “Novo Órgão”,
reflete acerca da futilidade do movimento da mente humana sem um direcionamento
– acredita que tal exercício proporciona apenas meros pensamentos mágicos carregados
de senso comum. Portando, para ele, um guia faz-se necessário: a observação. Desse
modo, somente o elo entre racionalidade e experiência teria capacidade de gerar
conhecimento verdadeiro – diferentemente de René, que considera os sentidos
fonte de enganos.
Dessarte,
a tão prezada utilidade prática da ciência para ambos os filósofos deve-se,
sobretudo, à ascensão da classe burguesa e a necessidade de instrumentos e
mecanismos promovedores dos avanços almejados por tal grupo -clamavam por uma
ciência emancipatória que melhoraria as condições da vida humana. Enfim, a
contemporaneidade é, na verdade, a consolidação desses projetos científicos e,
ao vivenciar eventos desumanos permeados por ferramentas destrutivas, retrata,
notada e infortunadamente, o lado obscuro proporcionado pela Ciência Moderna.
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