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terça-feira, 12 de outubro de 2021

Manutenção ignóbil de "hábitus" machistas

 

    O conceito de “hábitus” desenvolvido por Pierre Bourdieu corresponde a predisposição de culturas que influenciam nas escolhas dos indivíduos quando em sociedade, uma vez que representa capitais simbólicos incorporados ao decorrer da vida de maneira espontânea ao se inter-relacionar com diversos campos sociais. Assim é possível dizer que o meio no qual um sujeito está inserido interfere em suas ações, visto que seu consciente foi moldado por certos capitais simbólicos que influenciam a visão de mundo de cada um.

    A partir desses conceitos, é passível de análise o caso de apologia ao estupro em trote da UNIFRAN, no qual o ex-aluno de medicina- Matheus Gabriel Braia- proferiu um enojável discurso, entoando falas extremamente machistas para que as calouras repetissem essas falas nas quais se comprometiam aos desejos sexuais de seus veteranos. Por mais misógino, machista, e digno de repulsa que seja essa ação, o que mais é incomodo é o fato de que a juíza responsável pelo caso tenha se mantido a favor do acusado, alegando que as barbaridades proferidas na verdade possuíam carga cômica em um contexto descontraído, além de diminuir a luta feminista, pondo-a como muito rigorosa e que seu caráter sexual desconceituou a causa original.

    Em meio a tamanha balbúrdia, a filosofia e sociologia de Bourdieu aparecem como caminho para se entender as causas que dizem respeito ao campo jurídico, no qual o autor afirma a impossibilidade de haver independência plena do Direito para com as forças externas, uma vez que todos os indivíduos possuem seus próprios capitais simbólicos engendrados em seus âmagos, fazendo com que qualquer decisão esteja imbuída de certa subjetividade. Portanto, no caso em questão, o ex-aluno, se sentia confortável no contexto onde estava inserido, assim, demonstrou um comportamento preconceituoso por acreditar em sua impunidade, que foi confirmada pela juíza, que compartilhava, provavelmente, de um mesmo ou semelhante "hábitus".

    Sendo assim, o ideal de racionalização do Direito de autonomia, neutralidade e universalidade mostra-se inviável em um contexto de capitais simbólicos de tamanha influência para com as decisões mais importantes. Nesse sentido, entoar injurias machistas, quer seja em um contexto descontraído ou não, é algo que reflete toda a complexidade de “hábitus” que engendram os indivíduos, mantendo preconceitos ignóbeis ainda latentes nas sociedades hodiernas.

 

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