No final do século XIX, quando a Sociologia
começava a se estabelecer como ciência, Émile Durkheim já buscava meios de
inseri-la na Academia. Com um vigor interpretativo muito além de seu tempo,
afirmava que isso só seria possível analisando e observando os fatos sociais. Estes,
que se configuram como elementos externos que influenciam a maneira de agir,
pensar e sentir de um indivíduo. Os fatos sociais são gerais, porque estão
disseminados por toda a sociedade, são coercitivos pelo fato de exercerem
pressão para que suas normas sejam compridas e são externos de modo que existam
independentemente do indivíduo.
Segundo Durkheim, os fatos sociais ditam regras
de conduta aos indivíduos que as seguem muitas vezes sem ao menos perceber. O
filósofo vai além, dizendo que só realmente notamos essa pressão quando contrariamos
os fatos sociais, pois do contrário, sua presença, na maior parte das vezes,
não é notada. Assim, o indivíduo nega a si próprio e absorve para si tudo
aquilo que a sociedade dita como verdade, chegando a tal ponto que a acomodação
a essas regras fazem com que ele
acredite que certos sentimentos são próprios de sua elaboração, quando
na verdade, foram transmitidos a ele.
Assim como Durkheim, o poeta Carlos Drummond de
Andrade questiona essa necessidade de agir de acordo com os padrões impostos
pela sociedade no poema exposto a baixo:
Poema da Necessidade
É preciso casar joão,
é preciso suportar
antônio,
é preciso odiar
melquíades,
é preciso substituir nós
todos.
É preciso salvar o país,
é preciso crer em deus,
é preciso pagar as
dívidas,
é preciso comprar um
rádio,
é preciso esquecer
fulana.
É preciso estudar
volapuque,
é preciso estar sempre
bêbedo,
é preciso ler
baudelaire,
é preciso colher as
flores
de que rezam velhos
autores.
É preciso viver com os
homens,
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos
pálidas
e anunciar o FIM DO
MUNDO.
O poema mostra a angústia quanto às obrigações que o indivíduo precisa seguir e acreditar segundo certo padrão, uma conceituação coletiva. A repetição do “é preciso” reforça a ideia da cobrança diária vivida pelo indivíduo. Exemplos do fato social no poema são: a religião, a obrigação quanto o trabalho, o casamento, a tecnologia etc. Assim se estabelece o diálogo entre o que preconizava Durkheim há anos atrás, mas que ainda é realidade, como demostra Drummond.
Gabriela Gandelman Torina
1 ano Direito Noturno
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