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segunda-feira, 25 de maio de 2015

Ver para prever

Fruto de uma relação familiar tempestuosa, Augusto Comte nasceu em Montpellier, na França, em janeiro de 1798. Teve na Escola Politécnica de Paris – para ele, modelo ideal para a educação superior – seu primeiro contato com “uma comunidade verdadeiramente científica”; entretanto, foi ao estudar o Esboço de um Quadro Histórico dos Progressos do Espírito Humano, de Condorcet, que o pensador se depara com um dos principais pontos de sua filosofia: os descobrimentos e invenções da tecnologia levando o homem para o interior de uma completa racionalidade. Após sair da Escola Politécnica, Comte cooperou com Saint-Simon e, posteriormente, iniciou seu próprio curso, dando origem a uma de suas principais obras, o Curso de Filosofia Positiva.
O conservador francês fundamenta que a sociedade só poderia ser habilmente reorganizada por meio de uma íntegra reforma intelectual do homem. Diferente de outros filósofos de seu tempo – como o próprio Saint-Simon –, Comte pregava que, antes da ação empírica, os homens deveriam adquirir novos hábitos de pensar de acordo com as ciências contemporâneas. O método comteano compôs-se em derredor de três temas elementares: uma filosofia da história, com o objetivo de mostrar as razões pelas quais uma certa maneira de pensar deve imperar entre a humanidade, uma fundamentação e classificação do conhecimento baseado no pensamento positivo e, por fim, uma nova religião de renovação social que permitisse a reforma prática das instituições.
A filosofia da história sintetiza-se na lei dos três estados, proposição de Comte que diz que todas as ciências e o espírito humano desenvolve-se, de forma assintótica, em três fases: a teológica, a metafísica e a positiva. No estado teológico, a imaginação desempenha papel definitivo, uma vez que, diante da multiplicidade da natureza, o homem só compreende o mundo por meio da crença em deuses e espíritos; nesse estágio de desenvolvimento, o ser crê na posse absoluta do conhecimento, utilizando essa mentalidade para fundamentar a vida moral. No estado metafísico, o homem transita para a ideia de forças na intenção de substituir as divindades da fase teológica; aqui, a natureza é a unidade que corresponde ao deus único do monoteísmo. Ambos procuram explicar a origem e o destino das coisas.
Já o estado positivo tipifica-se pela subordinação da imaginação e da argumentação à observação: cada enunciado positivo deve ser proporcional a um fato. Nessa fase do conhecimento, não se busca a essência das coisas, mas, sim, a vinculação imutável entre os fenômenos. Na mesma época, o mesmo procedimento surge em Bacon, Galileu e René Descartes – os fundadores da filosofia positiva para Comte. Ao contrário dos estados teológico e metafísico, o positivismo considera impossível a redução dos fenômenos naturais a um só princípio como Deus e a natureza. Para Augusto Comte, a união entre a teoria e prática torna-se uma possibilidade, uma vez que, observando as relações imutáveis entre os eventos, é possível prever o seu futuro desenvolvimento. A previsibilidade científica permite o desenvolvimento do know-how, correspondente de um meio industrial capitalista, concentrando, na esfera político social, o conhecimento nas mãos de uma elite de sábios e cientistas.

Alexsander Alves,
Ingressante do Direito Noturno (XXXII, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais)

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