Após todas as revoluções burguesas do século XVIII, Augusto
Comte surge como um consolidador das ideias dessa classe, como um ponto
definitivo na instituição de seu poder e cuja intenção era o mantimento deste.
Pode- se dizer que a filosofia positivista, embora, de certa forma, iniciada
por Bacon e Descartes, coloca-se como um divisor de águas entre a filosofia
antiga e a filosofia preponderante na Era da Burguesia, que vai da revolução
francesa até os dias de hoje.
Comte buscou esquematizar as diferentes sociedades, já que
este era um objeto movediço a seu ver; ele tentou procurar aquilo que havia em
comum entre estas organizações e então, sistematizou as relações, sem tato
algum ou respeito pelas diferenças, padronizou o que poderia ser considerado
comum e normal. O filosofo buscava observar a sociedade como os físicos observavam
os planetas – o paradigma newtoniano da gravidade, por exemplo, foi muito usado
por ele. Se valendo disso, ele acabou por instituir um dos maiores males que
qualquer sociedade pode enfrentar: a ideia errônea de que relações humanas são
passiveis de interpretação superficial e de que existe um padrão – excluindo assim
milhares de minorias, oprimindo aqueles que, por escolha ou não, não se
encaixam, gerando preconceitos, imensas desigualdades e até mortes.
O burguês pregou também pela ordem acima de qualquer outra
coisa; a sociedade deveria fazer o que fosse preciso para se manter, mesmo que
isso significasse ações imediatas abusivas, como intervenções militares (e, por
isso, suas ideias foram muito absorvidas por esse grupo, os militares, se
incorporando a seus lemas). Sendo assim, o governo foi aliviado em seu papel de
buscar o real motivo, de se aprofundar nas causas de certo acontecimento ou
fato que perturbe a ordem, como por exemplo, o fenômeno das favelas ou a violência
urbana, e de trata-lo em longo prazo, de maneira cuidadosa, e para fins
definitivos, sendo a repressão a solução mais usada.
Entre tudo isso, porém, talvez a maior fatalidade infligida
por Comte foi amordaçar todos aqueles que se sentem insatisfeitos com a
sociedade, todos aqueles que são oprimidos, que querem e precisam de mudanças.
O filosofo instituiu o fim da total liberdade (afinal, os reprimidos não seriam
os da classe dominante) – a liberdade do individuo não podia extrapolar a
estática do conjunto e, portanto, não era liberdade – o que remete ao forte
caráter positivista que os regimes nazifascistas possuem. Pode-se dizer então
que Augusto Comte tirou a maior arma que um povo pode ter, a de fazer a sua
revolução e com isso, incrustou a opressão de tantas formas que as consequências
perduram até hoje, e perdurarão enquanto a burguesia tiver nele base para se
manter e possuir os objetos de coerção, deixando o povo a margem, como se sua
luta não fosse legítima.
Stephanie Bortolaso
Direito - Noturno
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