O século XIX foi, de maneira geral, marcado por uma enorme onda de cientificismo. Entre as teorias que surgiram nessa época e que tiveram maior influência nos anos subsequentes está o positivismo, fundado pelo pensador Auguste Comte.
Na obra Curso de Filosofia Positiva, o autor expõe suas ideias acerca do processo de desenvolvimento do pensamento humano, que passaria pelas fases teológica, metafísica e positiva. Esta última seria o ápice do amadurecimento alcançável. Com o triunfo do positivismo, restabelecer-se-ia a ordem, que estava comprometida na época, devido às modificações originadas pela Revolução Industrial.
É interessante ressaltar a importância da ordem social para o positivismo. Segundo Comte, manter a ordem é essencial para o progresso, sendo toda revolta que busque modificar tal ordem necessariamente negativa.
Sabe-se que, no início do século XX, o cientificismo do século precedente gerou inúmeras frustrações. Os avanços, que tinham prometido um progresso nunca antes visto, levaram a guerras, revoluções e mais instabilidade.
A produção literária do período reflete esse descontentamento. O clássico Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, publicado no período entreguerras, é uma distopia que aborda claramente os resultados de um positivismo levado às últimas consequências. Na obra, as pessoas são geneticamente programadas e condicionadas desde antes do nascimento a cumprirem seus papéis sociais, de maneira a não desequilibrar a ordem, como prescrito por Comte. A morte é praticamente ignorada enquanto fenômeno, já que é vista como a simples substituição de uma peça.
Na sociedade distópica de Huxley, a ordem é organizada de maneira perfeita e infalível - o que talvez maravilhasse Comte e seus adeptos mais extremados. Não é o que acontece com o Selvagem, personagem do livro que cresceu fora do "sistema" e não consegue se adaptar a ele. O leitor geralmente identifica a própria visão com a desse personagem, levando ao inevitável questionamento sobre os limites do apego à ordem.
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