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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Gaia


O filme, “Ponto de mutação”, baseado no livro de mesmo nome, do austríaco Fritjof Capra, faz alusão a um modo de vida integrado e provido de essência. O autor defende a “Teoria dos sistemas vivos”, segundo a qual a essência da vida é a auto-organização. Acreditava-se que um sistema vivo se mantinha, se renovava e se transcendia sozinho. A vida era caracterizada por mudanças estruturais contínuas, com estabilidade nos padrões de organização do sistema, considerava-se a criatividade como elemento básico da evolução.


No diálogo presente no filme, entre Sonia Hoffmann, uma física desiludida com os rumos tomados pela ciência, o poeta Thomas Harrimann e seu amigo Jack Edwards, um político que perdeu as eleições para presidente dos Estados Unidos da América, faz-se uma viagem ao passado do conhecimento humano dentro desses três pontos de vista. É feita uma exposição do pensamento humano desde René Descartes, o pensamento mecanicista, até aos dias de hoje, já com o paradigma científico plenamente identificado com a Física Atómica ou Quântica.


Capra defende uma visão holística e sistêmica do mundo, na qual o todo é tido como indissociável, sendo impossível o estudo das partes isoladamente. "O inteiro é mais do que a simples soma de suas partes." como já afirmava Aristóteles. É preciso ver o todo antes de fracioná-lo para entender sua conexão, integração, interatividade. Assim, Capra se contrapõe ao pensamento cartesiano que serviu de modelo para o método científico, onde se divide o todo em partes, estudando cada uma delas separadamente, para melhor entendê-lo.


Levando isso para um campo mais amplo, podemos afirmar que é preciso ver o impacto global de nossa existência individual, não esquecendo que nossas atitudes separadas refletem num todo indissociável. A maioria dos problemas atuais, como a violência, o desemprego, a crise energética, a poluição são facetas da mesma crise, uma crise de percepção.


O pesquisador e ambientalista James Lovelock em sua Teoria de Gaia (nome da antiga deusa grega que simbolizava a Terra viva), considera a Terra um verdadeiro sistema, abrangendo toda a vida e todo o seu meio ambiente, estritamente relacionados de modo a formar uma entidade auto reguladora. É a vida da Terra que cria as condições para a sua própria sobrevivência, e não o contrário. Essa concepção é abordada na obra de Capra, na qual somos parte de uma teia de relações, estabelecendo assim uma interdependência.


A obra publicada em 1983 se encaixa perfeitamente na conjuntura atual. Problemas ambientais nela abordados, como o efeito estufa, o desmatamento, entre outros, resultados da busca obsessiva pelo crescimento, ganham cada vez mais destaque nos dias de hoje. A busca pelo progresso equilibrado e pelo desenvolvimento sustentável, no qual nossas necessidades sejam satisfeitas sem diminuir as possibilidades das próximas gerações, nunca foi tão discutida.


Mesmo sem o controle de nossas ações, nosso planeta continua a fluir em um processo vivo, se mantendo, se renovando, se transcendendo. O pensamento voltado aos processos e não as estruturas, nos permite entender o caminho dessa evolução, diferenciando o pensamento clássico cartesiano do sistêmico integrativo, que anuncia o objetivo das sociedades modernas, qual seja, a busca pela perpetuação, no futuro, do desenvolvimento sustentável e do equilíbrio.

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