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sábado, 20 de abril de 2019

O Imbecil Individual

Auguste Comte, importante filósofo do século XVIII, teve um enorme impacto na cena acadêmica da época ao propor uma mudança no estudo do homem e da sociedade, ciência que, mais tarde, com Durkheim, se tornaria a Sociologia. Extremamente influenciado pelas Matemáticas e Ciências Biológicas, aquele pensador propunha analisar as Ciências Humanas sob essas óticas, visando criar a mais importante das ciências: a já citada Sociologia. Para isso, seria necessário o uso do pensamento positivo, o mais evoluído método filosófico (acima do teológico e metafísico), que reconhece a impossibilidade de obterem-se noções absolutas sobre algo; e que busca deixar de tratar fenômenos sociais como corpos isolados, mas considerá-los ramos de uma mesma árvore.
Outro aspecto da obra comteana seria os conceitos de estática versus dinâmica, os quais estudam, respectivamente, as condições constantes da sociedade, ou seja, ordem; e as leis de seu desenvolvimento, ou progresso; sendo esse raciocínio a origem do lema positivista: “O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim.” Pensamento esse responsável por uma das mais ferrenhas críticas ao autor, demonstrando seu pensamento conservador do ponto de vista político e social (não devendo esse ser confundido com o aspecto inovador de sua obra do ponto de vista do método científico). Apoiado por industriais e militares de sua época, Auguste Comte pregava a busca pelo desenvolvimento tecnológico apoiado na ordem, na conservação dos costumes, demonstrando seu caráter antirrevolucionário.
A mesma crítica pode ser feita sobre o filósofo contemporâneo Olavo de Carvalho, um dos pilares ideológicos do atual governo Bolsonaro. Em seu livro “O Imbecil Coletivo”, especificamente no capítulo “Mentiras Gays”, o autor disserta sobre suas concepções extremamente conservadoras e preconceituosas sobre a homossexualidade e homossexuais, propagando achismos transvestidos de verdades científicas sobre tal grupo, variando desde considerar a “incapacidade de apresentar um comportamento heterossexual” como uma doença (chegando até a utilizar o termo “homossexualismo”), até a quase igualar essa orientação sexual (ou “opção”, segundo Carvalho) à pedofilia.
É inegável a influencia de Comte, presente na utilização de argumentos supostamente científicos, biológicos, na expressão de um pensamento conservador, para impedir o avanço nas lutas sociais, visando manter a suposta “ordem” vigente em busca do “progresso”; visando manter estagnadas as estruturas sociais que permitem tamanha desigualdade presente no Brasil, tanto de gênero, quanto de classe ou raça ou orientação sexual; visando perpetuar a ordem dos privilégios àqueles que estão no poder, seja ele político, econômico ou militar.


Julia Parreira Duarte Garcia – Direito Matutino

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