O positivismo, fundamentado por Comte, consiste no desejo
de se analisar a sociedade sob a mesma ótica neutra e pura das ciências naturais.
O método positivista, por esta mesma característica, corrompeu-se de seu propósito
central. Ao utilizar-se deste instrumento, alguns pensadores acabam embeber suas
dissertações com seus preconceitos e juízo morais. Notório exemplo deste fenômeno
na contemporaneidade brasileira é Olavo de Carvalho.
Dentre as mais diversas falácias expostas por ele, uma
foi-nos proposta para análise, que discorre sobre a concepção da
homossexualidade. Nesta breve exposição, Carvalho faz uso claro do método
desenvolvido por Comte. Pode-se notar as conotações positivistas no modo como
ele busca justificar e fundar suas ideias com base em argumentos históricos e
proposições lógicas. Contudo, percebe-se nitidamente a forma como estes argumentos
são expostos a fim de corroborar com uma posição preconceituosa em relação à
comunidade gay. Este é um exemplo de como o método de Comte pode ser utilizado
de equivocado e com a finalidade de justificar preconceitos.
Mais pernicioso que a deturpação de um método genuíno é o
efeito que estas obras surtem na sociedade. Considerável parte da população, ao
ter acesso a um texto tão cheio de preconceito e fatos inverossímeis, mas com aparência
de teor científico, pode tomar aqueles argumentos como base para a perpetuação
de atitudes desrespeitosas e opressoras no convívio social. Mais precisamente,
na sociedade brasileira, atualmente, é notável a ascendente dos discursos de
ódio contra as minorias, o que explicitar uma direta conexão com este tipo de obra.
Enfim, o uso da corrente positivista para fundamentar e
incentivar práticas violentas na sociedade vai além da simples deturpação de
uma orientação filosófica, configura um desserviço à realidade humana. Todavia,
não cabe julgar o método, que apesar das falhas teve grande importância para o
desenvolvimento da ciência moderna, o que se julga e de ser abominado são as
distorções deste método como forma de justificar posições preconceituosas. E,
por fim, o texto “Mentiras Gays” de Olavo de Carvalho deve ser lido e utilizado
de parâmetro para identificar outras formas de preconceito transvestido de ciência.
Luiz Felipe de Aragão Passos - 1º Ano de Direito/Diurno.
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