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domingo, 8 de abril de 2018

O curioso caso da sociedade orgânica com anseios punitivistas

Considerado o “pai da sociologia”, o francês Émile Durkheim diferenciou o dinâmica das sociedades primitivas e modernas utilizando os conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. O primeiro tipo de solidariedade caracteriza as sociedades mais simples, onde não há um alto nível de divisão do trabalho e nem um sistema econômico muito complexo, além de uma lei extremamente punitiva e imediatista. O segundo tipo de solidariedade dá forma às sociedades mais complexas, com intensa divisão do trabalho e complexos sistemas econômicos (como o capitalismo), com um Direito claro e estabelecido (códigos e leis) e que possui uma característica restitutiva ao invés de punitiva.

Explicado o básico, mergulhemos na sociedade brasileira contemporânea: um país com um sistema econômico relativamente abastado e complexo (entre as dez maiores do mundo), com uma divisão do trabalho alta, com códigos e leis bem definidos (embora haja certas controvérsias) e que possui uma grande parcela da população com uma mentalidade que parece estar estagnada desde o período colonial. Como isso seria possível?

Alguns podem dizem que o punitivismo é fruto do estado de anomia em que se encontra o Brasil, mas essa não me parece a melhor leitura do contexto atual. O brasileiro possui uma herança da violência colonizadora que pode demorar algumas gerações para deixar de vez o imaginário popular. Além disso, desordem brasileira não é mero fruto de uma rixa político-ideológica, mas sim de um mal planejamento das instituições, onde os poderes foram mal delimitados, fazendo com que nem toda a norma posta consiga se fazer valer, o que dá a falsa ideia de que nossas leis nada valem ou que elas são “brandas” demais.

Com isso, parece-me claro que se o Estado Brasileiro decidir por seguir o punitivismo tal como constituído na mente do brasileiro médio (e aqui não entra o mérito de “esquerda” ou “direita” pois em ambos lados existem pessoas defendendo as mais absurdas medidas), teremos uma crise ainda mais profunda, a falência total das instituições (que deveriam passar uma ampla reforma, diga-se de passagem) e, aí sim, teremos um estado de total anomia ao melhor modelo de omnium contra omnes.

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