Foi-se
discutido, através da ADPF nº 54, a possibilidade de a gestante possuir o poder
de escolha de interromper, se desejar, a gravidez em caso de feto anencefálico.
Muita discussão social se enquadra em tal proposição, pois fatores como
religião e medicina conflituam entre si, ou, como define o autor Bourdieu, o Habitus promove, através de toda a
trajetória de vida e experiências pessoais, a possibilidade de indivíduos possuírem
ideologias opostas, causadas pela cultura e cotidiano.
O
Direito, matéria científica capaz de alcançar e mediar os conflitos sociais, possui
papel essencial onde as discussões como a acima citada, chamadas até mesmo de Hard Cases, se incorporam na sociedade. Porém,
com uma interpretação mais aguçada, utilizando do senso crítico e de uma visão
arguta, percebe-se que o Direito sempre foi mantenedor do status quo, que ainda possui grande parte de seu mecanismo presos às
mãos da classe dominadora da sociedade. Bourdieu critica sobre o Instrumentalismo,
ideia de Direito a serviço da classe dominante, e o Formalismo, entendimento do
direito como força autônoma diante das pressões sociais. O Direito, que antes
era mediador de conflitos, encontra-se, entre seus extremismos, uma antinomia
interna. Esses devem ser evitados, pois são ideologias que robotizam e limitam
o poder histórico e essencial do Direito.
Evidente
que o Direito surge através das lutas sociais, e da expressão da sociedade naquilo
que o campo jurídico o permita que seja, o que Bourideu chama de Espaço dos Possíveis. Porém, analisando
a discussão sobre aborto, não se percebe a voz forte das mulheres e sua
expressão. Dizem as más línguas que se o
homem engravidasse, o aborto poderia ser feito até em caixa eletrônico. Tal
questão mostra a dominação do gênero masculino sobre as decisões que, não
somente competem ao corpo das mulheres, mas também em qualquer outra decisão
que concerne ao campo jurídico. Grande exemplo de que o Instrumentalismo do Direito
é, muitas vezes, imperceptível, e que não somente a burguesia se privilegia do
poder, mas também toda uma classe social, étnica, religiosa e simbólica que é dominante.
Visto isso é necessário que haja luta e força social para se alcançar a ascensão da minoria e o que do
povo é de direito: A Soberania.
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