O Estado (não) é laico para todos.
Há uma distinção entre a ciência e a religião. Enquanto a ciência
determinar que a vida começa depois do desenvolvimento do sistema nervoso, a
religião acredita que começa com a concepção. A questão, no entanto, não é essa
disparidade de crenças, mas, sim, em qual o Estado deve determinar as questões
como o aborto de anencéfalos.
De acordo com a Constituição, o Brasil é um país laico. Mas é laico para todos? É laico para as
mulheres que, sabendo que seus filhos nascerão fadados a morte imediata, não
podem abortar? É laico para o sofrimento e desgaste emocional de tantas as “filhas
de Deus” que, por imposição religiosa, são obrigadas a manter um filho que não
é seu e, sim, da morte.
O autor Pierre Bourdieu observou a existência da violência
simbólica, que consiste na tentativa de a classe dominante impor seus
interesses particulares de maneira a passar o crédito de que são escolhas
certas e benéficas para todos. Dessa maneira, o autor cita a religião como um
exemplo de maneira de manter a integração social de maneira a provocar o
consenso geral. O Estado, então, tentou impor suas vontades particulares nos “ventres”
de mulheres brasileira, fazendo com que todos acreditassem que essa era a
melhor maneira de lidar com a situação. Para lidar com a problemática, o autor propõe
o formalismo no direito, em que o direito deve ser independente das vontades
das classes dominantes.
Nesse contexto, a
ADPF n°54, que determinou ato lícito o aborto de fetos com anencefalia, veio
para salvar a vida de tantas mulheres reféns de uma crença imposta pela
sociedade e Estado. Continuemos a lutar pelo Estado laico de todos e para
todos.
Luísa Lisbôa Guedes, direito diurno turma XXXIV – 2017
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