Em 1830, Auguste Comte em seu "Curso de Filosofia Positiva" estabeleceu os paradigmas para uma nova visão sociológica, unindo o racionalismo e empirismo de Descartes e Bacon à ideia de "física social", almejou o conhecimento das leis gerais do corpo social a fim de determinar suas relações invariáveis, para assim basear a reorganização da sociedade moderna.
A filosofia positiva, acima de tudo, considera-se ciência por excelência, ou seja, a expressão máxima da ciência humana. Justamente por causa dessa noção de cientificismo, tal filosofia acaba por denotar um caráter inerentemente universalista, acabando assim por ignorar as diversas implicações que essa ideia poderia causar. A universalização de padrões socioculturais menospreza, inconsequentemente, a diversidade de momentos, condições e histórias das civilizações, promovendo injustiças quanto às tão conhecidas por nós brasileiros noções de "ordem e progresso" de cada sociedade.
O antropólogo alemão Franz Boas é responsável por articular uma importante ideia também do ramo da sociologia e da antropologia: o relativismo cultural. Por essa denominação compreende-se a ideia de observar uma cultura ou elemento cultural sem uma visão etnocêntrica, sem julgar-se com base em preceitos já consolidados. Tendo essa concepção em vista, podemos estabelecer uma conflituosa relação entre o relativismo cultural e a filosofia positiva, uma vez que as duas concepções, uma universalista e a outra relativista, aparentam excluir-se mutuamente.
De um lado, os três estados progressivos do conhecimento humano, para Comte, o teológico, o metafísico e, finalmente, o positivo, representam a ideia de que o mais evoluído dos sistemas de pensamento é o científico. Por outro lado, a relativização das culturas nos mostra que não pode-se conceber parâmetros de evolução, de melhor ou pior, no que diz respeito às formas de conhecimento. Não é porque o conhecimento de xamanismo, ou a cultura animista de uma determinada tribo não tem bases empíricas que pode-se considerá-la menos civilizada, como se a sociedade ocidental fosse a detentora de todo o processo civilizatório.
Além disso, em sua obra Comte versa incansavelmente sobre uma "moral universal", sobre o "progresso", sobre o positivismo ser o "estado viril da inteligência humana". No entanto, como é possível falar em tais conceitos universalizantes, sendo que as percepções de bom, mal, evolução, progresso, inteligência, são construídas socialmente?
Por final, ao avaliar a produção do filósofo frânces Auguste Comte, nota-se que seu trabalho foi uma importante ruptura com as dogmáticas de sua época, porém ao transplantá-lo para a contemporaneidade, como muito é feito atualmente, seu julgamento mostra-se em vários aspectos antiquado e carente de discernimento diante das diversas mazelas e iniquidades do mundo moderno.
Gustavo Lobato Del' Alamo - 1º Ano - Diurno
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