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domingo, 13 de agosto de 2017

O Advogado do Diabo

Auguste Comte é, indubitavelmente, o alicerce primeiro da sociologia como ciência. Cidadão de uma sociedade recém-industrializada, no desabrochar de uma novíssima organização socioeconômica, marcada pela substituição dos mecanismos políticos de controle pelos interesse de uma nova entidade soberana: o mercado. Comte, ao discorrer sobre o progresso unidirecional do conhecimento humano rumo ao pináculo da razão e, destarte, da organização social, o qual chama “estado positivo”.
É proposta, nesse contexto, a elaboração da física social, a qual, sob a égide da racionalização suprema do estudo científico. A partir de teses empiristas, propõe que as inter-relações sociais sejam estudadas, fundamentalmente, pelos ditames da observação e experimentação, o que levaria, inevitavelmente, a um construto exato e ideal de comunidade, marcado pela ordem e pelo pleno progresso científico. O alcance de um construto rígido e estável seria a única possibilidade de futuros passos adiante.
Em tempos maculados por incertezas e conflitos rasos, ausenta-se a busca pelo progresso uno, pela coletivização do saber. O mundo tornou-se múltiplo, as culturas tornaram-se inimigas e o diálogo do contexto “multipolar” já há muito é coadjuvante na tomada de decisões. O indivíduo sobrepôs-se à comunidade, o interesse do “eu” é regra quando deveria ser exceção. Em tal contexto em que a desordem é soberana, muito parece fruto do delírio de mentes pouco comprometidas com a verdade coletiva, com o bem-estar do “nós”; o limiar do terceiro milênio arrasta consigo a opacidade dos tempos em que o metafisico era o real.

A ausência de pragmatismo e realismo na tomada de decisões afasta as comunidades humanas da estabilidade necessária ao progresso. As doutrinas comteanas, em demasia autoritárias, não são adequadas à complexidade da organização hodierna; não obstante, o cerne do estudo de – agora tido persona non grata – Comte revela uma possível saída para o caos. A definição de um único objetivo, de uma universal utopia, pode, com efeito, reverter em parte a corrosão dos elos entre culturas. Em uma peça de múltiplos atores, a ausência da razão torna-os todos protagonistas; estabelecer – como na teleologia de Comte – um propósito real e exato transmuta a confusa competição em mútua e coesiva cooperação.


Fernando Peres - 1º ano Direito (Noturno). 

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