Auguste
Comte é, indubitavelmente, o alicerce primeiro da sociologia como ciência.
Cidadão de uma sociedade recém-industrializada, no desabrochar de uma novíssima
organização socioeconômica, marcada pela substituição dos mecanismos políticos
de controle pelos interesse de uma nova entidade soberana: o mercado. Comte, ao
discorrer sobre o progresso unidirecional do conhecimento humano rumo ao
pináculo da razão e, destarte, da organização social, o qual chama “estado
positivo”.
É
proposta, nesse contexto, a elaboração da física social, a qual, sob a égide da
racionalização suprema do estudo científico. A partir de teses empiristas,
propõe que as inter-relações sociais sejam estudadas, fundamentalmente, pelos
ditames da observação e experimentação, o que levaria, inevitavelmente, a um
construto exato e ideal de comunidade, marcado pela ordem e pelo pleno
progresso científico. O alcance de um construto rígido e estável seria a única
possibilidade de futuros passos adiante.
Em
tempos maculados por incertezas e conflitos rasos, ausenta-se a busca pelo
progresso uno, pela coletivização do saber. O mundo tornou-se múltiplo, as
culturas tornaram-se inimigas e o diálogo do contexto “multipolar” já há muito
é coadjuvante na tomada de decisões. O indivíduo sobrepôs-se à comunidade, o
interesse do “eu” é regra quando deveria ser exceção. Em tal contexto em que a
desordem é soberana, muito parece fruto do delírio de mentes pouco
comprometidas com a verdade coletiva, com o bem-estar do “nós”; o limiar do
terceiro milênio arrasta consigo a opacidade dos tempos em que o metafisico era
o real.
A
ausência de pragmatismo e realismo na tomada de decisões afasta as comunidades
humanas da estabilidade necessária ao progresso. As doutrinas comteanas, em
demasia autoritárias, não são adequadas à complexidade da organização hodierna;
não obstante, o cerne do estudo de – agora tido persona non grata – Comte revela uma possível saída para o caos. A
definição de um único objetivo, de uma universal utopia, pode, com efeito,
reverter em parte a corrosão dos elos entre culturas. Em uma peça de múltiplos
atores, a ausência da razão torna-os todos protagonistas; estabelecer – como na
teleologia de Comte – um propósito real e exato transmuta a confusa competição
em mútua e coesiva cooperação.
Fernando Peres - 1º ano Direito (Noturno).
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