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quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O trapiche em evidência.

                  Boa - Vida assim era chamado devido ao seu caráter indolente e remansado. Sem Pernas carrega em sua essência um ódio irrefreável contra tudo e todos. Essas personalidades díspares convivem em um mesmo corpo social, entretanto a junção desses singulares perfis não explicam muito menos justificam o fenômeno social ao qual estão completamente inseridos: o mundo do crime. A sub-sociedade formada pelos meninos do trapiche muito elucida acerca da compreensão dos fatos sociais atemporais. Tal analogia se dá pelo fato de que todos ali desfrutam de peculiares atmosferas e trazem consigo diferentes causas sociais que, minima ou maximamente, os esculpiram; entretanto, o meio que os expeliu e o meio que os acolheu são características comuns entre eles. É permissível a afirmação de que o meio aos quais estão agora inseridos não é fator determinante do agir desses indivíduos, mas sim os traumas que individualmente se instalaram em suas almas. Eis aí a explanação do porque um meio social pode ser o mesmo para um grupo e ainda assim seus componentes reagirem de maneiras distintas, como Pirulito e Pedro Bala. Há que se ressalvar que o microcosmo já mencionado não é a soma das personalidades que nele se inserem.
                  A singela moradia em uma parte qualquer de uma praia tem seus próprios caracteres, sendo regida por uma realidade específica. Não é um mero ligame de consciências. É uma associação de percepções. A fusão delas cria um ser único e exterior, um sub-mundo que apresenta propriedades dissemelhantes daquelas de que é formado, mas que carrega em seu cerne a perfeita concórdia daqueles que a formam. A originalidade dessa esfera a permite agir sozinha. O mundo ilícito ao qual estão inseridos não age, ou não nos força a agir, conscientemente no sentido de lhes causar algum prejuízo, moléstia voluntária. Essa sociedade erra querendo acertar. A tentativa de acerto, fora dessa realidade, é interpretada como algo prejudicial por quem a ela é alheio. Há causa de danos sem que se produza benefícios para o corpo social. Em uma análise positivista, seria visto como uma simples prática de crimes. Em uma visão Durkheimiana, sucede-se a atenção para a raiz do presente problema, buscando uma regressão nas razões profundas que certamente devem existir. A reação social que compõe a pena é devida ao emaranhado de sensações e éticas coletivas que o crime ofende. Não é interessante que apenas se puna o crime, mas que se conheça o criminoso em seus mais profundos choques mentais.
                   Assim, ainda que se olhe os indivíduos separadamente, nota-se características símiles de almas que habitam um lugar que foi capaz de transformar tendências criminosas latentes em manifestas. Por mais cruel que seja o ambiente, ele não faz o criminoso, mas sim age em concordância com ele. Conforme já dito, as condições psicológicas conversam entre si, estas podem não ser as mesmas na prática mas o são na essência, e desse diálogo nasce o corpo social já caracterizado, longe da simbiose de personalidades mentais.
                 O funcionalismo se encarrega de sanar as dúvidas que rodeiam a vida no trapiche.
           
Ana Carolina Ribeiro - 1 ano - Diurno

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