“Em
suma, se os tubarões fossem homens haveria uma civilização no mar.” É dessa
maneira que Bertolt Brecht sintetiza sua hipótese que garante características
humanas aos tubarões. Na construção do alemão, tubarões se tornam amigáveis aos
peixes menores, lhes dão educação, comida e moradia para que, em troca, estes
trabalhem e um dia se tornem alimento para os peixes maiores. Seria construída uma
cultura de culto aos grandes dentes desses animais, os peixinhos que foram
obedientes, nadaram para a barriga dos tubarões, seriam lembrados e serviriam
de exemplo para toda a sociedade, a religião submarina exaltaria tal ato,
outros peixes bons ensinariam a boa conduta para os mais novos. Isto é, a
civilização do mar convergiria para a satisfação dos tubarões por meio de uma
enorme força coercitiva, a mesma que atua na sociedade em que os homens são
homens, exposta por Durkheim em seu estudo sobre os “fatos sociais”, ou seja, a
maneira de pensar e agir exteriores ao indivíduo, tal como ocorre com os
peixinhos de Brecht expostos à doutrinação dos tubarões.
Muitas
vezes, em cidades repletas de anúncios com os dizeres “Customize!”, “Dê a sua
cara!” e “Seja livre”, é difícil destoar da massa, é difícil trilhar um caminho
novo sem olhares de rejeição, não há espaço para a prática desses anúncios, não
há espaço nem mesmo para a originalidade de novos anúncios. Gerações inteiras
fazem o mesmo percurso que seus avós e pais fizeram, a faculdade deixou de ser
uma opção para os jovens, ela é necessária, o diploma define o quanto vale cada
um, e se vale. O empreendedorismo, a inovação, aquela mesma elogiada por
Descartes, se encontra desfalcada em uma cultura como a brasileira atual, os riscos,
até mesmo as críticas, enquanto manifestação da individualidade, são tomadas
como ameaças à ordem social.
Mas qual
seria a grande consequência à ordem social que tanto é temida? Novamente, é
Durkheim quem nos apresenta outro conceito, o de “anomia”, ou seja, fratura as
normas, em que uma sociedade perde o norte a se guiar, uma crise de valores, a
qual garante tanto temor às organizações mais conservadoras. É a responsável
pelas grandes mudanças comportamentais no decorrer das Eras, em geral provocada
pela falta de coesão social e temporal, isto é, voltando à alegoria de Brecht,
se alimentados com uma comida que já não lhes agrada, os peixinhos teriam sua
fidelidade aos tubarões enfraquecidos, a coesão nos mares estaria comprometida.
Em síntese, a busca da individualidade notada na atualidade é uma resposta à
inadequação do tempo, traduzida na incapacidade de concretização dessa
individualidade, os próprios homens, portanto, devem alterar sua alimentação
para reestruturar uma nova ordem, ou seja, sua organização.
Felipe Cardoso Scandiuzzi - 1ª ano - Direito
Matutino
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