No caso da reintegração de posse do
Pinheirinho, um grande problema explicitado foi o da ligação entre a elite
econômica e a aplicação do direito, no seguinte aspecto: a elite econômica
ocupa as cadeiras de grande parte do poder judiciário do país. Quando um membro
deste poder toma uma decisão como a que a juíza tomou no caso do Pinheirinho,
sua orientação é ideológica. Neste caso, a noção marxista de que o Estado
existe para servir aos interesses da burguesia é confirmada, ainda mais sendo a
máquina estatal composta por membros da própria burguesia. Quantos magistrados
vieram da favela? Quantos magistrados já precisaram, em algum momento da sua
vida, “invadir” um terreno vazio para terem onde morar?
Sob uma perspectiva hegeliana, a ordem
judicial e mesmo a ação policial estiveram ali corretamente. No caso da ordem
judicial, foi o direito, através da sua forma e expressão na sociedade, ou
seja, o poder judiciário, agindo para garantir a liberdade expressa no direito
de propriedade. A ação policial, neste contexto, também seria legitimada, uma
vez que a polícia está agindo também para garantir o direito à propriedade. A
polícia, aliás, é talvez a única instituição estatal presente num modelo de
Estado Liberal perfeito, pois o papel desta seria o de garantir a manutenção da
ordem para que o pleno exercício da propriedade fosse praticado sem
impedimentos. Foi precisamente este o papel que a polícia cumpriu ao expulsar
os moradores do Pinheirinho de suas casas.
Mudança no ensino do
direito, educação emancipatória e uma reforma gradual nas instituições e no
direito, alcançada através da pressão e atuação de movimentos sociais, estas
são algumas belas proposições para a busca de condições sociais mais dignas,
partindo de uma perspectiva de respeito mais à dignidade do que à propriedade.
A estrutura de dominação que proporciona episódios como o do Pinheirinho está
montada e forte há séculos. O processo de mudança é longo e difícil, mas
possível.
Lucas Mota Plaza - 1º ano Direito - Diurno
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