Total de visualizações de página (desde out/2009)

segunda-feira, 20 de julho de 2020

O Positivismo como ferramenta da homofobia presente em "Mentiras Gays" e na sociedade como um todo.

O positivismo consiste em uma corrente filosófica idealizada primeiramente por Auguste Comte (1798 - 1857) e tem como uma de suas características a supervalorização da ciência e da experimentação. Dentre as ciências, há a biologia que, além muitíssimos outros assuntos, disserta sobre a reprodução humana. Nesse contexto, destaca-se o debate acerca da sexualidade e a questão dos indivíduos homoafetivos, bem como críticas ao texto "Mentiras Gays", presente na obra "O Imbecil Coletivo", de autoria de Olavo de Carvalho.

Após a leitura do texto supracitado e de conhecimentos adquiridos acerca do Positivismo, não há como concluir outra coisa senão que o excerto "Mentiras Gays" tenta disfarçar seu caráter homofóbico embasando-se em opiniões positivistas e, assim, obter o respaldo da sociedade que, tal como o escritor, possui personalidades veladamente homofóbicas. Isto é, o autor tenta trazer uma justificação científica para aquilo que não passa de uma opinião retrógrada e infundada.

No Brasil atual, se tornou comum tentar disfarçar preconceitos tentando fundamentá-los na ciência. Ainda que os mesmos que assim fazem, utilizam da religião e da tradição (e não da ciência) para justificar outras reivindicações, caracterizando uma incoerência que por si só já anula a validade desses argumentos. No entanto, é possível notar no texto do guru bolsonarista provas de que as suas opiniões apenas tentam ser mascaradas com embasamentos científicos, mas na verdade não passa de homofobia: o autor faz uso do termo "homossexualismo", criado para designar a (então considerada) doença de ser homossexual. Felizmente, a Organização Mundial da Saúde retirou essa classificação em 1990 e o termo "homossexualidade" passou a entrar em vigor, evento tido como um marco da luta pelos direitos dos homossexuais. Porém, o autor (que publicou o livro anos após a mudança) não adotou a terminologia correta, deixando claro sua posição inválida e sem funamentos científicos, ou seja, homofobia.

Em uma tentativa (sem sucesso) de provar a superioridade dos indivíduos heterossexuais em detrimento dos homossexuais, Olavo de Carvalho adota um posicionamento positivista e, de novo, busca na ciência motivos para justificar suas opiniões. Apenas essa prática já é motivo para considerar a obra como absurda, afinal, a ciência funciona buscando evidências para depois formular uma opinião e não o inverso. Porém, Olavo tenta trazer o dado que as relações heterossexuais são necessárias para a sobrevivência da espécie e as relações entre indivíduos do mesmo sexo, apenas questão de gosto, e, por isso, não se deve questionar a superioridade dos héteros. No entanto, o autor não apercebeu-se que essa visão não é motivo para justificar uma superioridade dos heterossexuais, pois nenhuma pessoa deve ser superior a outra, mesmo que uma contribua com a perpetuação da espécie e outra não. Afinal, heterossexualidade também é questão de gosto e ninguém deve ser julgado por se sentir atraído por pessoas do mesmo sexo.

Na realidade tudo o que anseia a população homossexual é a paz, o respeito, o direito de se vestir como quiser, de tentar relacionar-se com quem tiver vontade, de ser quem quiser sem sofrer nenhuma consequência negativa por isso, ou seja, uma sociedade sem preconceitos ou discriminações.

Agora, resta superar esses posicionamentos preconceituosos e mentirosos, que se mostram como ciência mas na realidade podem ser definidos como opiniões infundadas e mal-intencionadas de indivíduos que lutam todos os dias para manter sua posição de privilégio. Diante desses fatos, é possível concluir que o positivismo é uma ferramenta muito útil a esse preconceito e, portanto, é em parte negativo à sociedade, ao contrário do que alega ser a própria proposta positivista de Comte.

Mateus Restivo de Oliveira
Direito - Diurno | UNESP

Nenhum comentário:

Postar um comentário