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segunda-feira, 20 de julho de 2020

Ser ou não ser? Qual o limite da individualidade?


Ter empatia com uma causa social sempre foi algo digno de admiração entre nós seres humanos. Deixar nossos interesses e vontades pessoais de lado para salvaguardar o bem-estar de outrem é uma atitude considerada nada egoísta e digna de reconhecimento. Mas até onde nosso senso de pertencimento à um corpo social deve interferir em nossa individualidade? Será que para que uma sociedade se comporte de modo mais orgânico possível todas as suas engrenagens devem constituir-se de peças iguais e devem então comportar-se de maneira indistinta? E talvez a questão mais importante que deve ser posta, existem peças mais relevantes que as outras quando se fala na composição de algo?
Auguste Comte, pai da filosofia positivista, afirmou que para existir um progresso social a ordem deve ser primeiramente estabelecida. Segundo ele, para que essa ordem se torne realidade o indivíduo deve estar ciente e educado de uma moral baseada numa racionalidade que discrimine o essencial daquilo que é supérfluo. No caso concreto, qualquer coisa que fuja de uma normatização e que não tenha em vista um fim útil aos padrões gerais de uma sociedade acaba por estabelecer uma desarmonia no sistema social e por esse motivo deve ser vista como uma anomalia que deve ser corrigida e, quando possível, restaurada. A ordem é algo que regra e estabelece uma padronização de comportamento. Nesse sentido, falar-se em plena identidade individual parece ser algo que fere esse princípio.
Seguindo as analogias do campo biológico que estudiosos como Comte e Émile Durkheim insistiram em fazer em seus estudos sociológicos, ao entenderem que o todo acaba sendo maior que a soma das partes, ignoram que cada peça que compõem um corpo orgânico trabalha por um fim em si mesma, cada órgão de um sistema se solidariza no conjunto porque tem uma necessidade natural de sobreviver de uma forma que garanta seu pleno funcionamento, e que só como expressão última acaba por trazer benefícios maiores para o todo. Promover a total perda de identidade de algo em prol de uma visão que se diz superior é tão simplesmente apoiar-se numa ideia que limita aquilo que na prática não pode e nem deve ser limitado. Nenhuma peça de um sistema complexo é totalmente igual ou se sobressai a outra, e não se poderia falar em finalidade sem considerar que quando um componente deixa de agir da maneira que está naturalmente predisposto a fazer sempre acaba afetando os outros componentes que estão com ele relacionados.
Respeitar a diferença e entendê-la como algo positivo é uma lição que só muito recentemente nós seres humanos começamos a entender. Ter gostos, propensões, e maneiras de conduzir a vida diferentes só são julgáveis quando afetam de forma maléfica o outro, e por isso qualquer teorização que vá no caminho contrário somente estará buscando estabelecer uma uniformização superficial da realidade em um contexto em que as coisas naturalmente necessitam funcionar de maneira distinta para que se possa de fato haver uma coexistência harmônica e orgânica.

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