As correntes sociológicas surgem em diálogo com fatores da realidade propondo nela intervirem. Nesse sentido, a sociologia oitocentista de Augusto Comte está inserida em uma lógica de oposição ao progressismo francês, ou seja, é crítica à possibilidade de reforma e readequação das instituições, propondo, portanto, a manutenção da ordem social pré estabelecida. Tal qual o Positivismo de Comte, conservadores da contemporaneidade são defensores de uma moral positiva, num viés paradoxal à inclusão de grupos específicos e adjacentes no que se chama de solidariedade. Assim, o Positivismo hodierno está vinculado a um processo global de resgate ao capitalismo liberal do século XIX, em contraste ao Estado provedor e inclusivo, o que suprime as particularidades individuais e aniquila a possibilidade de um bem estar pleno a diversos grupos.
Desde a queda do muro de Berlim há um retorno dos valores sociais do século XIX pela descrença no Estado provedor, o que promoveu o retorno de ideias positivistas, fragilizando a inclusão social. Enquanto as democracias europeias, como a Holanda, tem enfoque na proteção às diversidades e garantem o crescimento vegetativo com políticas públicas, positivistas brasileiros como Olavo de Carvalho defendem os valores familiares conservadores, a fim de que a humanidade multiplique-se de forma autônoma, garantindo a ordem independente. Segundo ele afirma no capítulo “Mentiras Gays” da obra “O Imbecil Coletivo”, os indivíduos devem estar em seu papel social adequado para a funcionalidade, ou seja, têm a função de se reproduzirem em prol do prazer coletivo, não sendo aceitos, por isso, métodos de manutenção do crescimento populacional diferentes desta ordem. Ademais, neste viés, fica clara uma hierarquização das orientações sexuais, pois os heterossexuais seriam os que contribuem para o equilíbrio social, enquanto os homossexuais nada contribuíram para a ordem e o progresso. Isso tem como consequência um regresso na inclusão dos LGBTs, observado tanto na política de negligência do governo atual, cujo presidente ganha as eleições apesar de afirmar ser “homofóbico com muito orgulho”, quanto no aumento de 30% nos homicídios constatado pelo Grupo Gay da Bahia entre 2016 e 2017. Assim, o Positivismo olaviano mostra-se nocivo às liberdades individuais hodiernamente, sobretudo à comunidade LGBT i+.
Neste contexto, o indivíduo vê suas particularidades suprimidas por um ideal coletivo de progresso humano, o que torna o bem estar superficial. Para Olavo de Carvalho em “O Imbecil Coletivo”, a diversidade homoafetiva não é de caráter social pois está centrada apenas no desejo egoísta do prazer, o que significa que não seria digna de transbordar do indivíduo para a sociedade, cabendo à segunda, em nome da moral positiva, o dever de repudiar as expansões particulares desses grupos a fim de manter o "bem estar geral" (Status quo). Esse desprezo está presente inclusive no discurso presidencial e na orientação do governo atual, como ocorreu no caso “Golden Shower” durante o carnaval de 2019, quando o próprio presidente Bolsonaro generalizou os homossexuais como promíscuos e desertores da ordem pública, potencializando o preconceito já existente. Como consequência, priva-se uma parcela da população da sensação de pertencimento e, por isso, do bem estar pleno, o que é perceptível pelo aumento de 284% do número de suicídios de LGBTs em 2018 em relação a 2016, segundo o Grupo Gay da Bahia. Assim, o homossexual vê-se excluído devido à solidariedade que prega a ideologia positivista olaviana tendo, portanto, seu bem estar individual e social suplantado em prol do pseudo progresso pregado por ela.
Diante dos fatos expostos, é evidente que a retomada de valores positivistas por autores contemporâneos inseridos num resgate aos ideais oitocentistas, como Olavo de Carvalho, e por agentes políticos, como o presidente Bolsonaro, apresenta-se nociva às minorias no Brasil, sobretudo ao grupo LGBT i+, que são sistematicamente privados de seu bem-estar pelo excludente ideal de solidariedade defendido por estes.
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