A teoria marxista vê o modo de produção como fundamento da
ordem social. Dessa forma, predomina no capitalismo a troca mercantil que, por
sua vez, baseada na produção configura uma exploração do trabalho assalariado.
Consequentemente, esse cenário gera um embate entre a classe trabalhadora e a
burguesia, donas dos meios de produção, nomeado pelos autores como luta de
classes, aqui caracterizada como o produto final do Estado moderno burguês.
Todavia, diante de determinadas paixões acerca da teoria
marxista faz-se necessário uma análise desse pensamento que abranja a relação
do capitalismo e a complexidade das relações sociais. Diante disso, destaca-se
a obra da filósofa Angela Davis, publicada em 1981, Mulheres, raça e classe. No
livro, Davis faz uma grande contribuição acerca do feminismo negro; contudo
ultrapassa as particularidades do assunto tratado e inicia uma importante apreciação
acerca do marxismo. Angela Davis mostra que não somente o trabalho assalariado
como invenção do capitalismo, mas também as estruturas de escravidão e servidão
influenciam na dinâmica social. Sendo o conflito de classes uma síntese do
capital, a divisão social pauta-se também em questões mais complexas como raça
e gênero.
A partir dessa fundamentação encontra-se uma luz sobre
questões que acontecem diariamente no Brasil. Quando o rapper Evandro “Fióti”
foi barrado por seguranças na entrada da Fashion Week que inaugurava sua
própria grife de roupas, evidencia que, mesmo diante da acumulação de capital e,
portanto, não fazendo parte da classe de trabalhadores assalariados, a raça
ainda é um fator determinante de opressão. Do mesmo modo, quando o movimento
hip-hop norte americano ou mesmo o funk carioca assumem uma postura ostentação,
longe de serem “cooptados pela universalidade do pensamento burguês”, essa
cultura afirma a existência que lhes foi negada diante da marginalização
estrutural.
Entretanto, pode-se pontuar que a opressão racial é fruto
do capitalismo. O sistema de escravidão de africanos, maior responsável pelo
racismo estrutural presente no mundo, baseou-se na troca mercantil e sustentou
grande parte do desenvolvimento capitalista. Porém, desenvolveu-se de uma
maneira tão singular que a relação raça-pobreza se tornou intrínseca. Destarte,
ao assumir a teoria materialista como concepção de análise da sociedade, o
fator raça se torna determinante para a posição e as relações do sujeito.
Por fim, faz-se necessária uma análise do conceito “classe”
a partir das especificidades de raça e gênero, a fim de obter um conceito mais
complexo do materialismo. A teoria marxista precisa ser pensada, no contexto
contemporâneo, de forma que abranja as transformações as quais a sociedade foi
submetida.
Daniela Cristina de Oliveira Balduino, 1º Direito - matutino
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