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domingo, 12 de junho de 2011

Opressores e oprimidos

Em uma de suas notas no Manifesto Comunista, publicado pela primeira vez em 1848, Engels diz o seguinte: "Burguesia significa a classe dos capitalistas modernos, que possuem meios da produção social e empregados asssalariados. Proletariado, a classe dos trabalhadores assalariados modernos que, por não ter meios de produção próprios, são reduzidos a vender a própria força de trabalho para poder viver." Essa distinção entre burgueses e proletários é a base primordial de todas as ideias defendidas por Marx e Engels a fim de chamar a atenção desses últimos para as condições sociais da época, para as injustiças cometidas pela burguesia e a exploração a que estavam sendo submetidos.

Os autores fazem uma análise histórica, demonstrando que, em todas as épocas houve luta de classes, desde o sistema feudal. Entretanto, essas classes se simplificam nas duas definidas acima, com o triunfo da burguesia. Mas como se deu exatamente essa ascensão da burguesia? De que maneira ela conseguiu obter autoridade política? Tudo se deu devido ao crescimento do mercado mundial e à revolução dos instrumentos de produção, provocada por esse grupo. Os burgueses foram os primeiros a dar provas de que a atividade humana poderia empreender e criar o improvável. Eles se tornam, assim, "líderes de todo o exército industrial", diante de tamanhas modificações e inovações. Marx e Engels chegam a fazer uma descrição exaltada dessa capacidade burguesa, afirmando que em nenhum outro século pôde-se observar criações de tal magnitude, estando elas adormecidas no seio do trabalho social. Entretanto, esse ritmo de produção se torna caótico, a ponto de não poder mais ser controlado nem mesmo pelos que o introduziram, e é aí que surgem as crises, que os autores identificam como uma "epidemia da superprodução". Isso demonstra também a ideia de que tudo o que é sólido derrete-se no ar; não existem mais relações firmes e sólidas, e, dessa maneira, a burguesia acaba criando seu próprio inimigo, aquele que é capaz de utilizar suas próprias armar para lutar contra ela: o proletariado.

Os proletários, nesse novo meio de produção, passam a ser vistos como mercadoria, simples apêndices da máquina cujo trabalho não exige nenhuma habilidade construtiva, transformando-se em algo simplório e monótono. Além disso, diferenças de idade e sexo não são levadas em consideração, e as consequências desse fato para o meio social são intensas, aspecto que Marx descreve com bastante clareza também em "O Capital". Portanto, segundo o Manifesto, a luta do proletariado contra a burguesia começa do nascimento, pois estão inseridos nesse sistema e não têm escapatória dessas relações de exploração, a menos que mudem isso a partir da união cada vez mais abrangente de trabalhadores. Chegam, assim, à conclusão de que a burguesia é inapta para exercer o governo, já que não pode nem mesmo assegurar a existência de seus "escravos" sem que estes afundem em total degradação.

Diante disso, surgem os comunistas, com a meta de instituir o proletariado como classe verdadeira, derrubando a supremacia burguesa e conquistando o poder político. Um dos principais aspectos dessa revolução seria a abolição da propriedade burguesa, individual, com o argumento de que na realidade, a propriedade é um benefício de poucos, sendo esta inexistente para a maioria. E, ademais, o movimento proletário representa o interesse da maioria. Defendem, então, a centralização dos meios de produção nas mãos do Estado, o que acabaria com a oposição entre classes e com a sua própria existência, dando lugar a uma associação na qual fosse possível o desenvolvimento livre de todos. Fica claro que os comunistas apoiam os movimentos revolucionários contra a ordem da sociedade da época, de maneira universal.

É impossível, depois de ler o Manifesto Comunista, não refletir sobre suas ideias e tentar situá-las na atualidade. O que se diz contra as relações entre opressores e oprimidos é muito coerente com nosso sentimento de justiça e igualdade, e é difícil não ser invadido por uma sensação de otimismo. Entretanto, sabemos que o mercado e seu poder atrativo impedem que essa consciência de liberdade para todos seja incorporada na sociedade capitalista, pois, querendo ou não, tudo gira em volta do mercado e só ele é regulador das relações econômicas (aspectos como religião e cultura ficam excluídos dessa perspectiva). Dessa maneira, os laços entre as pessoas também ficam de certa forma presos ao mercado, e geralmente nos deixamos levar por ele. As transformações que a humanidade viu nos últimos séculos transformou permanentemente todos os tipos de relações, e diante de uma força tão auto-suficiente e grandiosa, só nos resta questionar se algum dia realmente nos veremos livres da existência de uma hierarquia de classes, de opressores e oprimidos, independente do sistema político no qual estejamos inseridos.

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