A “liquidez” moderna, discutida pelo sociólogo
polonês Zygmunt Bauman,demarca a instabilidade comportamental e demonstra o
distanciamento da razão no status quo social. Por meio da influência midiática,
cantores e jogadores são idealizados e construídos como heróis para rapidamente
serem fadados ao esquecimento. Tal imposição de uma verdade absoluta,
deturpadora, que controla boa parte da sociedade é, indiretamente, criticada
por René Descartes em seu livro “O Discurso do Método”.
Por meio de tal obra, o filósofo francês assevera
sobre a busca da verdade e do conhecimento por meio da razão, casado ao poder
da dúvida. Ele tinha o propósito de demonstrar seu esforço para conduzir sua
razão combatendo “ideais transcendentais” tais como a astrologia, magia e
alquimia. O método cartesiano distancia a verdade das impressões sensoriais,
incertezas e defende que os sentidos são falhos e podem ofuscar a
racionalidade.
Além da crítica a tais conhecimentos sobrenaturais,
Descartes divergia do olhar da filosofia clássica, afirmando que a sua
possibilidade de transformação é mínima e a considerando apenas como uma
contemplação cujas concepções são facilmente contestadas. Encontrar a verdade
nos raciocínios e não confiar na força do hábito livrando-se de enganos e
deturpação da razão: estes eram alguns dos fundamentos de René. O filósofo
criou uma moral provisória baseada em quatro máximas: a dúvida como meio da
busca da verdade ; a fragmentação e especificação do objeto de estudo ; o
acúmulo do conhecimento científico do mais simples ao mais complexo ; e a união
dos estudos buscando acarretar um conhecimento amplo.
Ademais, este não contestava a existência de Deus,
pelo contrário, o caracterizava como o ser mais racional capaz de criar o
homem. Ou seja, a busca da verdade é um caminho de aproximação com esse “Ser
Maior”. Enfim, quais as consequências dessa metodologia? Podemos destacar a
crítica atual da especificidade excessiva, um dos princípios do método
cartesiano. Infelizmente, diante desse contexto, pode-se concluir uma certa
alienação: diversas escolas são preparadoras de futuros operários fabris, o
conhecimento é restrito, docentes reproduzem conhecimento e raramente há
reflexões entre os discentes. Afinal até quando haverá essa “maquinização
humana” e influência fordista?
Nota-se, pois, que apesar do distanciamento
temporal, a relação e importância do ideal cartesiano em nossa atualidade, em
que a fluidez e maleabilidade social é palpável, é relevante. Interesses
lucrativos midiáticos devem ser submetidos à razão para que não se tornem
verdades absolutas e indestrutíveis. Descartes – o pai da filosofia moderna foi
peça essencial para acúmulo do saber e para diferenciação entre falso e
verdadeiro.
Daniela Nogueira Corbi - Direito noturno
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