A emergência de uma sistematização de conhecimento em meados do século XIX traduziu as transformações que por sua vez desabrochavam na referida era. Nascia para o mundo o Positivismo. Concebido de forma conjunta com as transformações sócio-espaciais, este adentrou no rol das ciências com a finalidade de estudar uma sociedade que se encontrava sob sucessivas metamorfoses. Os esforços de uma interpretação científica do inconstante meio trazia consigo uma vigilância niveladora de normalidade. Os acontecimentos sociais obedeceriam, portanto, a leis específicas, os fenômenos e anomalias teriam em seu cerne explicações similares. A história das civilizações teria algo em comum - todas elas tinham uma maneira congênere de explicação da sociedade, seja a ideológica, a metafísica e, agora, a atual positivista com o triunfo da razão;
Essa abcisão niveladora que tinha, conforme exposto, o objetivo de homogeneizar a sociedade e, assim, atribuir explicações comuns para anomalias distintas, pôs fim a algo inerente ao meio social - a individualidade. Ainda que a referida ciência priorizasse a união dos indivíduos como algo benéfico para o bem comum, a essência do ser humano foi deixada de lado como algo também contribuinte para a construção da sociedade. O sistema fora assim criado como uma associação simbiótica entre coletividade e meio, de modo que, separados, tendem a decadência. Desse modo, qualquer desvio do pré-estabelecido seria apontado como fora da normalidade.
Em uma manhã comum, a qual a rotina outra vez tomaria conta, Gregor Samsa abre os olhos. O despertar veio acompanhado de certa estranheza outrora nunca sentida. Os movimentos estavam limitados por uma rigidez contestável. Após certa dificuldade em se levantar, a explanação veio a tona por meio de seu reflexo no espelho - ele havia se transformado em uma barata. A mãe de Gregor era a ponte que ligava o pai - que não queria vê-lo - ao filho. E por mais que seus instintos maternos tentassem protegê-lo e forçassem-na a amá-lo, o menosprezo e o receio pelo anormal eram responsáveis pelo desejo incontrolável de tirar a vida do próprio filho. Gregor morreu em decorrência de uma ferida causada por uma maçã que sua mãe jogara em suas ´´costas´´. De maneira análoga a crônica de Kafka, a sociedade positivista NÃO se une para acolher e nivelar o anormal em seu seio. É como se olhassem uma árvore de caule torto separadamente do solo da floresta que assim o fez nascer. A individualidade, as diferenças, AS ESCOLHAS são colocadas em segundo plano para que o bem comum possa prosperar. A união que se incita atualmente prevê apenas prestígios materiais que fogem à dor do ser. As ´´baratas´´ que dia pós dia são vítimas de ataques de maçãs revelam até onde a ciência não consegue - e nunca conseguirá - enxergar. A destreza do homem hodierno olvida-se que, quando tocar uma alma humana, precisa ser apenas outra alma humana.
O entendimento do corpo social é deveras complexo para que seja ajustado a teorias exatas e leis engendradas. Mas, em algo, Comte estava certo - a concórdia entre os indivíduos tem força suficiente para moldar e ajustar o progresso no caminho certo.
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Ana Carolina Ribeiro - 1 ano de Direito - DIURNO
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