Com a emergência da Revolução Industrial, em meados
do século XVIII, constatou-se, não raro, uma organização sistemática e hierarquizada
da sociedade. Tal processo fomentou o surgimento de classes antagônicas no que
se diz respeito ao capital. Enquanto a burguesia detinha este, o proletariado o
almejava (sendo necessária a venda de sua mão de obra). Analogamente às
engrenagens de uma fábrica, a sociedade industrial dispunha de certa ordem
motriz embasada em preceitos de leviandade, padronização e automação. Assim,
entre superficialidade disseminada, sistematização arraigada e robotização crescente,
a sociedade industrial instaura-se, sendo de importância fulcral para a propagação
do sistema capitalista.
Na obra “Modernidade Líquida”, o sociólogo polonês Zygmunt
Bauman discorre sobre a progressiva superficialidade e fragmentação das relações
humanas, fato que é potencializado pelo incessante imediatismo no qual a sociedade
submete-se. Tal atestação finda com uma crise identitária humana, visto que instituições
antes sólidas (Igreja, Estado, família, etc) acabam por liquefazerem-se. Antagonicamente
à circunstância comprovada por Bauman, o filósofo francês Auguste Comte
discorria que as instituições não deveriam ser dissolvidas, e sim
solidificadas, servindo como meio para gerar a moral e equilibrar a sociedade
industrial, fornecendo a ordem (pressuposto indispensável para o progresso humano).
No mitologia grega, Procusto fora um homem obcecado
pela sistematização, submetendo viajantes à uma cama previamente ajustada. Caso
fossem demasiadamente altos, Procusto amputava suas pernas, caso fossem menores
que a medida estabelecida, o homem esticava os membros da vítima. Em um contexto
hodierno, tal mito simboliza o anseio de padronizar. Comte, ao defender leis invariáveis
da sociedade e ao focalizar somente em fatores imediatistas, propicia a disseminação
de padrões, fomentando o estabelecimento de ordens estáticas e de arquétipos
pré- definidos.
Ademais, a obra distópica “Admirável Mundo Novo”, de
Aldous Huxley é crucial para analisar a robotização crescente na qual a
contemporaneidade insere-se. Nesta distopia, uma sociedade futurista é
hierarquizada, sendo o destino de seus membros definido em laboratório. A
felicidade é alcançada com o “soma” e a automação de todos os aspectos
existenciais arraiga-se. Analogamente, em uma sociedade na qual a robotização é
enaltecida e a ordem é sinônimo de prosperidade, temos a instauração de ideologias
fixas, as quais transcendem o questionamento e devastam particularidades.
Finalmente, a filosofia positiva de Comte, a qual explicita-se
como concreta, científica, racional e empírica desvela-se inábil para embasar
os preceitos de uma sociedade, uma vez que perpassa as causas primeiras,
desdenha as peculiaridades e alicerça suas concepções em moldes. Basicamente,
engrandece teorias, desprestigiando a prática. A superficialidade procústica
automatizada é pútrida, tal qual a ideologia comtiana.
Isadora Mussi Raviolo - 1º ano Direito Noturno
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