Emancipação
social: cotas como caminho propiciador de uma nova realidade para os
jovens negros
A
ADPF 186
(Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental) ajuizada pelo
Partido Democratas (DEM) sustentou a inconstitucionalidade do sistema
de reserva de 20% das vagas para negros aplicado pela Universidade de
Brasília, UNB. Alegaram que esse sistema criaria na Universidade um
verdadeiro “Tribunal Racial”, questionando como seria a
“declaração” dos
ingressantes negros. Para eles, as cotas raciais apenas mascaram a
realidade social, já que faz uso de um método de custo zero para o
Estado, visto que não houve aumento de vagas simultaneamente com a
aplicação das cotas. Além disso, declararam essa medida
inconstitucional
“por gerar desproporcionalidade”.
Por
outro lado, a ADPF em questão foi julgada improcedente por
unanimidade. Uma das juristas envolvidas no caso, Flávia Piovesan,
afirma que a igualdade e a desigualdade pairam sobre o binômio
inclusão- exclusão, como também, que a discriminação significa
sempre desigualdade. Nesse sentido, ressalta-se que a igualdade
estabelecida no art. 5º da Constituição Federal é meramente
formal, e que são necessários dispositivos que possibilitem o
alcance da igualdade material. Assim, as ações afirmativas, medidas
constitucionais e emergenciais, combinadas com a proibição da
discriminação, são mecanismos eficientes no processo de aceleração
à igualdade substancial. “As ações afirmativas constituem
medidas especiais e temporárias, que, buscando remediar um passado
discriminatório, objetivam acelerar o processo de igualdade, com o
alcance da igualdade substantiva por parte de grupos socialmente
vulneráveis, como as minorias étnicas e raciais, dentre outros.
Enquanto políticas compensatórias adotadas para aliviar e remediar
as condições resultantes de um passado discriminatório, as ações
afirmativas objetivam transformar a igualdade formal em igualdade
material e substantiva, assegurando a diversidade e pluralidade
social.” (PIOVESAN, 2014, p.328)
A
partir da perspectiva de que não apenas o meio em que se vive deva
ser plural, o ambiente das Universidades também deve ser um espaço
que reflita de forma condizente com o espectro que a sociedade
realmente apresenta. Tal fato motivou a instituição de cotas para
negros na UNB já que perceberam que a Universidade se mostrava um
ambiente segregado, à margem dela, as minorias étnicas, com
composição branca mais que dominante. Desse modo, a discriminação
contra negros apenas serve para acentuar todo o sofrimento tido por
esses indivíduos em decorrência da escravidão. Ainda que a
abolição da escravatura tenha “libertado” os escravos, essa
liberdade não foi concreta, visto que depois de “abertas as
algemas”, negros foram postos à margem da sociedade, e mais de cem
anos depois desse ato, muitos ainda permanecem nessa situação. De
fato, a grande maioria de jovens negros pobres se quer tem conhecimento
do significado do termo “Universidade”.
De
acordo com a leitura do texto de Boaventura de Sousa Santos, acerca
do possível papel emancipatório do Direito, percebe-se que o
sistema de cotas raciais não mais é do que um instrumento que
possibilite a emancipação social dessas minorias, ainda que de
forma lenta e gradual, além de uma forma de reparar a ação danosa
que humilhou e sacrificou o povo negro por trezentos anos.
Boaventura
explicita em sua obra a “economia de saberes”, pela qual
considera-se apenas uma perspectiva científica única e válida, com
restrição de recursos teóricos. Já a “ecologia dos saberes”
se pauta em um ecossistema teórico enraizado nas diversas culturas,
que vai além da ciência econômica, biológica e social. Assim,
embora as cotas raciais sejam vistas pelo senso comum como um
mecanismo que meramente “facilita” o ingresso de negros na
Universidade, não se pode desconsiderar a realidade desta prática:
levar àqueles sem perspectiva de um futuro promissor a possibilidade
de ter acesso ao ensino superior, fato que dificilmente seria obtido
em razão da baixíssima qualidade das escolas que tais indivíduos
têm acesso e pelas condições sociais e econômicas que os afastam
desse meio. Com isso, a partir do cosmopolitismo proposto por
Boaventura, o saber cosmopolita que se valida em diversas realidades
pelo fato de ter origem em diversas realidades, é necessário a
desconstrução do fascismo social ( como uma diretriz de conduta dos indivíduos, ditador de opinião), que nos é imposto, e enxergar a
construção de uma nova realidade para esses jovens, já que o
preconceito é algo que, infelizmente, ainda irá acompanhá-los muitas
gerações.
https://www.youtube.com/watch?v=nbPlV-_1d9I
Menino de 11 anos desabafa sobre o racismo diário que sofre na
escola.
http://www.brasilpost.com.br/2015/10/21/negros-graduados-ganham-menos_n_8348926.html
Entre
graduados, brancos ainda ganham 47% mais que negros. (Para
ratificar a necessidade das cotas raciais aos negros)
Gabriela Cabral Roque
1º ano - diurno
Sociologia Jurídica
1º ano - diurno
Sociologia Jurídica
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