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sexta-feira, 17 de julho de 2015

A interdependência universal e a crise grega

“Em lugar das antigas necessidades, satisfeitas pela produção do país, encontramos novas necessidades, exigindo para satisfazê-la produtos de terras e climas distantes. No lugar da antiga reclusão e auto-suficiência local e nacional, temos conexões em todas as  direções, uma interdependência universal.”
    Esse excerto extraído do Manifesto Comunista de Marx, ao meu ver, serve muito para compreender a situação que a Grécia está passando no momento. Seu envolvimento com o bloco econômico europeu, do qual é membro desde 1981, é demasiado e marcado, sobretudo,  pelo estabelecimento de uma relação de mais pura dependência. O que torna cada vez mais difícil o enfrentamento de uma situação de crise ameaçadora das condições sociais, da estabilidade política e econômica.
        Diante dessa crise ameaçadora, aprofundada desde 2008, o primeiro ministro do partido Syriza, Tsipras, tinha um plano original para livrar a Grécia da mesma: sua intenção é mantê-la na Zona do Euro,  reverter as medidas de austeridade, usurpadora de direitos, preponderantes nos acordos com a Troika. Renegociando os termos da dívida grega. Difícil mesmo é negociar com o imperialismo, contra a ditadura do capital, sem ser visto como um inimigo do sistema.
        Com efeito, enquanto Tsipras tentatava pressionar abertamente os representantes dos organismos multilaterais, mostrando que tais medidas de austeridade tinham um alto custo social, cuja aplicação resulta em um forte retrocesso em matéria de direitos fundamentais e sociais. As negociações não vingavam nesse sentido, pois eles, do “sistema”, se recusam a renegociar a dívida grega, temerosos de que isso poderia acabar estimulando outros países a fazer o mesmo. Consequência de tal situação, isto é, para superar esse muro de resistência entre os credores, convocou-se o referendo grego, no qual a população se mostrou majoritariamente contra a concessão de novos empréstimos com respaldo em novas medidas de austeridade.
       Disso tudo podemos extrair uma lição sobre a democracia e o capitalismo, pois, se em detrimento de uma relação econômica, com objetivo de manter-se ativo no mercado mundial e integrar o sistema globalizado, em nome de uma moeda valiosa como euro, tiverem que negar direitos ao motor da economia, melhor votar “OXI, OXI”, ou seja, contra. Já que o empréstimo de mais moeda para continuar vivo nessa organização global, não deveria valer o sofrimento, sobretudo da classe trabalhadora, que padeceria com o desemprego ou com menores salários. Em outras palavras a dignidade pessoal não pode adquirir um simples valor de troca, as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esfroço não deveria ser substituída pela única e implacável liberdade de comércio, conforme Marx afirma que o fez a burguesia revolucionária.
      No caso grego, reportando ao autor do Manifesto Comunista, o caso não era buscar mercadorias e rescursos em “terras distantes” pois estavam logo ali, na própria Europa (o "inimigo" mora ao lado). Mas sim compreender que sua relação de dependência com relação ao “fornecedor” é tão grande que o futuro social e econômico não pertence mais ao senhor deles. 

Yasmin Commar Curia
1º ano- Direito- Noturno



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