“Em
lugar das antigas necessidades, satisfeitas pela produção do país, encontramos novas necessidades, exigindo para
satisfazê-la produtos de terras e climas distantes. No lugar da antiga reclusão
e auto-suficiência local e nacional, temos
conexões em todas as direções, uma interdependência universal.”
Esse
excerto extraído do Manifesto Comunista de
Marx, ao meu ver, serve muito para compreender a situação que a Grécia está
passando no momento. Seu envolvimento com o bloco econômico europeu, do qual é membro
desde 1981, é demasiado e marcado, sobretudo,
pelo estabelecimento de uma relação de mais pura dependência. O que
torna cada vez mais difícil o enfrentamento de uma situação de crise ameaçadora
das condições sociais, da estabilidade política e econômica.
Diante
dessa crise ameaçadora, aprofundada desde 2008, o primeiro ministro do partido
Syriza, Tsipras, tinha um plano original para livrar a Grécia da mesma: sua
intenção é mantê-la na Zona do Euro,
reverter as medidas de austeridade, usurpadora de direitos,
preponderantes nos acordos com a Troika. Renegociando os termos da dívida
grega. Difícil mesmo é negociar com o imperialismo, contra a ditadura do
capital, sem ser visto como um inimigo do sistema.
Com
efeito, enquanto Tsipras tentatava pressionar abertamente os representantes dos
organismos multilaterais, mostrando que tais medidas de austeridade tinham um
alto custo social, cuja aplicação resulta em um forte retrocesso em matéria de
direitos fundamentais e sociais. As negociações não vingavam nesse sentido,
pois eles, do “sistema”, se recusam a renegociar a dívida grega, temerosos de
que isso poderia acabar estimulando outros países a fazer o mesmo. Consequência
de tal situação, isto é, para superar esse muro de resistência entre os credores,
convocou-se o referendo grego, no qual a população se mostrou majoritariamente
contra a concessão de novos empréstimos com respaldo em novas medidas de
austeridade.
Disso
tudo podemos extrair uma lição sobre a democracia e o capitalismo, pois, se em detrimento
de uma relação econômica, com objetivo de manter-se ativo no mercado mundial e
integrar o sistema globalizado, em nome de uma moeda valiosa como euro, tiverem
que negar direitos ao motor da economia, melhor votar “OXI, OXI”, ou seja,
contra. Já que o empréstimo de mais moeda para continuar vivo nessa organização
global, não deveria valer o sofrimento, sobretudo da classe trabalhadora, que
padeceria com o desemprego ou com menores salários. Em outras palavras a
dignidade pessoal não pode adquirir um simples valor de troca, as numerosas
liberdades, conquistadas com tanto esfroço não deveria ser substituída pela
única e implacável liberdade de comércio, conforme Marx afirma que o fez a
burguesia revolucionária.
No caso grego, reportando ao autor do Manifesto Comunista, o caso não era buscar mercadorias e rescursos em “terras distantes” pois estavam logo ali, na própria Europa (o "inimigo" mora ao lado). Mas sim compreender que sua relação de dependência com relação ao “fornecedor” é tão grande que o futuro social e econômico não pertence mais ao senhor deles.
Yasmin Commar Curia
1º ano- Direito- Noturno
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