O filme Ponto de Mutação de Bernt Capra é uma adaptação cinematográfica do livro
O Ponto de Mutação de Fritjof Capra. Ambas
as obras apresentam uma crítica ao método cartesiano de interpretação da
natureza, bem como as consequências desse pensamento na formação histórica,
cultural e científica do mundo e da sociedade.
No prefácio de seu livro, Fritjof
Capra comenta que a descoberta do mundo subatômico e a exploração das leis que
regem esse mundo revelaram uma realidade completamente inesperada, na qual todo
o pensamento vigente até então não era mais capaz de pensar e descrever tais
fenômenos. Essa revolução na física provocou não só uma crise intelectual, mas
também uma intensa crise existencial.
Para o autor, nossa sociedade
encontra-se em uma crise análoga, que é essencialmente uma crise da percepção. A
ideia de crise da percepção é apresentada por uma das personagens e é
amplamente discutida durante todo o filme, bem como suas implicações na
sociedade em que vivemos e o reflexo dessa crise no que diz respeito à própria
interpretação da Natureza. Essa crise deriva do fato de se tentar aplicar os
conceitos obsoletos e ultrapassados da visão de mundo mecanicista de Descartes
e Newton a uma realidade que não pode mais ser interpretada à luz de tais
conceitos.
A grande discussão do filme é a
necessidade de uma profunda mudança da visão mecanicista de interpretação do
mundo e da natureza para uma visão holística e ecológica, que condicione uma
nova interpretação da realidade e que provoque uma mudança sem precedentes em
nossos valores. Essa proposta é a base do diálogo e da discussão produzidos
pelas personagens do filme.
"Acredito que a visão de mundo sugerida pela física moderna seja
incompatível com a nossa sociedade atual, a qual não reflete o harmonioso estado de inter-relacionamento
que observamos na natureza. Para se alcançar tal estado de equilíbrio dinâmico,
será necessária uma estrutura social e econômica radicalmente diferente: uma
revolução cultural na verdadeira acepção da palavra. A sobrevivência de toda a
nossa civilização pode depender de sermos ou não capazes de realizar tal
mudança”.
(Capra, Fritjof – O Tao da Física,
1975 )
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