Estudioso da Sociologia do Direito, Weber analisou o Estado e seus âmbitos – público ou privado – detalhadamente em sua obra Economia e Sociedade, mais precisamente em seu VIIº capítulo (Sociologia do Direito). Afirmou que, primordialmente, o portador originário do Estado derivou-se da autoridade doméstica, ou seja, do chefe de família/clã. Portanto, o Estado trouxe consigo desde o seu surgimento fortes ligações com a esfera privada. Desse vínculo com o espaço privado, consequentemente, carregou-se de valores intrínsecos paternalistas. Assim, de um regime de autoridade familiar construiu-se um sistema social de relações paternais entre chefe e subordinados, como se fossem estes uma família tutelada por aquele.
Pode-se notar que essa característica se fez presente ao longo do histórico brasileiro, ainda mais quando junta-se paternalismo com elitismo social. Pois o Estado Brasileiro por muito conservou – e talvez ainda preserve – a particularidade de ser composto essencialmente por uma classe dominante, que em favor da mesma administra o aparelho estatal. Todavia, com o fortalecimento – paulatino, mas constante – da massa popular ao longo do tempo, foi necessário suprimir o fator elitista quando bem convinham aos governantes. Por exemplo, na Era Vargas, quando as classes menos favorecidas foram iludidas pelo paternalismo latente de Vargas, que era apoiado e apoiava a classe mais influente. Consequentemente, mesmo com identificação social, governantes ainda apoiariam certos particulares.
Desse modo, é de fácil percepção atualmente que funcionários da máquina pública a utilizam a seu bel-prazer, ignorando quase por completo as necessidades sociais. Há assim, a deterioração do campo público pela grave corrupção e imoralidade internas. Para o agravamento desse quadro, existe por parte do setor privado, grande intervenção no meio público a fim de defender seus interesses econômicos (fenômeno denominado patrimonialismo), mesmo que sejam – e na maioria das vezes o são – contra o interesse geral. E isso Weber já previa, essa intensa intervenção do privado no público e vice-versa. Contando-se ainda com a atrofia do sentido de responsabilidade cívica por parte dos cidadãos e uma hipertrofia do Governo em diversos âmbitos, tem-se uma facilitação para com os administradores fazerem o que bem entenderem. Obviamente não são todos os governantes ou funcionários públicos atingidos pelo antigo determinismo paternalismo-elitista, mas que esses poucos possam ser apoiados pela sociedade civil para que esse anacronismo acabe ou, no mínimo, míngue.
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