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segunda-feira, 16 de maio de 2022

"sic mundus creatus est"

    No seriado alemão “Dark”, somos apresentados à uma trama paradoxal e, sob uma primeira análise, contraditória. Ao envolver viagens no tempo e conceitos de Física, o roteiro nos mostra não só como o passado influencia o futuro, mas como o futuro pode influenciar o passado, revelando um perturbador cenário da existência humana em que todos estão presos em um ciclo infinito de uma tortuosa existência. Por mais que tal obra pareça uma mera distopia, podemos analisar que o cenário educacional brasileiro está preso em um ciclo que tende a se repetir eternamente por conta da desinformação do pensamento ultraconservador.

    Primeiramente, vale introduzir um conceito sociológico de Émile Durkheim. De acordo com o pensador francês, há um tipo de análise de mundo e das relações humanas supérflua e potencialmente – como no caso que busco analisar – perigosa: a análise ideológica, que define-se como um estudo dos fatos sociais impregnado de viés ideológico, isto é, que parte de uma ideia já concebida para a posterior averiguação de um evento. Pois bem, tal forma de se pensar está enraizada naqueles que defendem pautas como “escola sem partido” e que se dizem contra a “doutrinação” presente no ensino brasileiro. Afirmo isso pois, os adeptos de tal tese já possuem em si uma visão conservadora que considera o estudo de questões sociais pertinentes como mera “balbúrdia”. Acreditar nisso não somente é um desrespeito com a busca por um ensino de qualidade, como também enquadra-se, muitas vezes, como um atentado à liberdade de expressão do professor.

    Parto então para o ponto principal do meu raciocínio. De que modo isso seria responsável por prender o cenário educacional brasileiro em um ciclo infinito de falhas? Novamente sob o pensamento de Durkheim, a ignorância generalizada poderia ser responsável por uma coerção social, visto que a sociedade seria como um organismo vivo que exerce influência sobre tudo e todos, havendo pouco – ou nenhum – espaço para a individualidade. Portanto, nota-se que um pensamento perigoso poderia influenciar outras pessoas a virarem adeptas de tal postura. Por conseguinte, a luta por esse ensino incompleto defendido teria maior força, podendo de fato influenciar mudanças na grade curricular escolar. Logo, ao criarmos um ambiente de estudo onde inexiste o pensamento crítico, estaríamos fadados a criar pessoas com o mesmo pensamento, que no caso seria um enraizado com ideais conservadores que menospreza o estudo de matérias como a Sociologia e a Filosofia. Em suma, a análise ideológica leva à má formação escolar, que novamente levaria à indivíduos adeptos da análise ideológica, e assim por diante.

    É com pesar que concluo que, assim como os personagens do seriado “Dark”, o povo brasileiro está preso em um ciclo de ignorância. Por sorte, diferentemente da obra citada, podemos romper essa angústia incentivando uma educação com um olhar crítico e respeitando certas temáticas como sendo necessárias. Ou então, poderemos apoiar a tese de que ciências sociais não passam de balbúrdia e desrespeitam os bons costumes. Nesse caso, infelizmente, a vida imitará a arte.


Mateus G. F. de Souza

Direito - Turma XXXIX Matutino

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