O funcionalismo, com surgimento na antropologia e na sociologia, teve como um dos principais pensadores o francês Émile Durkheim. Essa corrente sociológica pretende averiguar e relatar a origem das instituições sociais e sua colaboração própria para a estabilização da sociedade, buscando as regras de funcionamento e as diferentes funções empregadas pelo povo. No contexto histórico, a economia brasileira, até a década de 30, era baseada exclusivamente no modelo agrário-exportador, tendo como base a produção dos cafeicultores paulistas; logo após, com a crise das oligarquias, Getúlio Vargas passou a investir no parque industrial, por meio do sistema de substituição das importações, modelo nacionalista que não se afastou do capital estrangeiro.
No governo de JK, com início em 1956, continuou-se o desenvolvimento do sistema capitalista por meio do Plano de Metas, porém, com uma grande abertura ao capital estrangeiro, associando o internacionalismo com a expansão da economia do país no contexto da Guerra Fria, de maneira alinhada com as políticas estadunidenses. Nesse sentido, fica clara a razão dos governos seguintes em investir nas escolas técnicas industriais brasileiras, tendo em vista nitidamente a carência de técnicos capacitados para levar adiante o avanço das fábricas. Assim, os EUA passaram a auxiliar o Brasil com subsídios para o financiamento de equipamentos e dispositivos necessários ao ensino profissionalizante, sob a cobrança de juros a longo prazo. O intuito dos patrões diante dessa classe trabalhadora caracteriza parte de um projeto de dominação mais amplo, de forma que esses funcionários deveriam acreditar no capitalismo como a melhor forma de organização existente e aplicar os princípios liberalistas que adquiriram até mesmo nas suas vidas pessoais.
Na época, a saída encontrada para efetivar essa dominação por estratégias de subordinação indiretas, sem obter questionamentos advindos da sociedade, foi a revolução pedagógica, ou seja, obter o consenso de que as práticas liberais-burguesas eram o melhor caminho através da educação. Essa transformação na maneira de ensinar adaptaria os indivíduos ao meio, colocando lado a lado a escola e a realidade de desenvolvimento econômico pela qual o Brasil estava passando de maneira pragmática, e estabelecendo a noção das pessoas mais como um coletivo do que somente como seres individuais. Analisando-se essas ideias e comparando-se com o ensino industrial brasileiro, praticamente toda a educação tecnicista no Brasil segue a linha de raciocínio desses renovadores e condescendem com a unificação de Durkheim, de uma maneira que reitera a necessidade de associação entre os estudos da Biologia e da Psicologia com as relações sociais.
Segundo o sociólogo francês, à luz da sua teoria funcionalista, o objetivo seria a possibilidade de individualização por meio da socialização; logo, não teria lógica basear a sociedade na igualdade quando os indivíduos são condicionados pelas suas vivências dentro desse próprio agrupamento. Dessa maneira, cada pessoa, como parte de um todo, deveria exercer uma função específica pré-determinada a fim de manter o bom desenvolvimento das relações humanas, isto é, ocorreria uma diferenciação social partindo do pressuposto da desigualdade das classes. Desse modo, as escolas técnicas-industriais vêm como instituição de poder cuja função seria justamente esse ajuste do povo aos moldes da sociedade, sempre levando em conta as diferenças, ou seja, o ensino seria disponibilizado de maneira distinta para cada meio que as pessoas estivessem inseridas, de maneira controlada e sistêmica, indo de encontro, mais uma vez, à teoria de Durkheim, que compara a sociedade a um corpo vivo, no qual cada órgão desempenharia uma função e a falta de um acarretaria em uma anomia que faria todo o organismo ficar comprometido, método que, na prática, era previsto por esse novo modelo de ensino.
Com base no analisado, propor o funcionalismo intrinsicamente ligado aos modelos educacionais que permeiam o ensino industrial tecnicista provoca a admissão de posturas que condizem com esse preceito epistemológico com o intuito de conservar a ordem vigente. É nesse sentido que, para a classe dominadora, a monotecnia ligada à formação dos trabalhadores fabris torna-se interessante, já que o entendimento, por parte do operário, da sua posição social no ambiente trabalhista e das devidas formas de possível mudança que ele pode requerer não é viável para o ponto de vista do dominador. Assim, à medida que o tempo passa, o funcionalismo permanece presente na educação através do tempo cada vez mais, adaptando-se de acordo com o devido contexto.
Nome: Núbia Quaiato Bezerra
Direito noturno
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