Visando uma análise contundente e direta sobre o fenômeno da mobilização do direito calcada nos princípios sociológicos postos por McCann, é de suma importância efetuar a observação da decisão judicial do Ministro Dias Toffoli referente à deliberação da presidência do TJRJ, responsável por suspender a sentença do Desembargador Ribeiro Pereira Nunes que decidiu por inconstitucional a retirada de materiais específicos e a suspensão do evento da Bienal do Livro do Rio de Janeiro.
Em um primeiro momento, cabe
observar que a decisão efetuada sob a gestão de Marcelo Crivella no Rio reserva
caráter exclusivo de apoio a sua base eleitoral, uma vez que em meados de 2019
– ano em que o evento citado ocorreu – o prefeito já apresentava uma gestão
municipal pífia, com índices de desenvolvimento econômico e sociais patéticos e
com sua relevância eleitoral caindo aos pedaços.
Na busca por um último suspiro que
ascendesse o farol de alerta de seus eleitores com discursos conservadores e
moralizantes, o prefeito decidiu por tomar uma decisão que imaginou não ter
repercussões jurídicas graves – o que em plena verdade, foi o exato oposto ao
que de fato ocorreu.
A partir do momento em que a pauta
sobre a censura de livros que trouxessem uma abordagem da comunidade LGBTQIA+
para a vida cotidiana de heróis ultrapassou a esfera da opinião e atingiu
caráter judicial formal, houve em escala nacional mobilizações contra e a favor
de tal pauta, fortalecendo aquilo que McCann chama de “contramobilização do Direito”.
Segundo tal princípio, a judicialização de determinado conflito que é capaz de
opor duas visões diferentes acerca de um mesmo tema eventualmente acaba por
fortalecer o discurso dos que são contrários à decisão tomada em um tribunal,
como se pode observar no caso em questão com a relevância midiática incomum
dada a políticos de caráter conservador após o evento ocorrido em 2019.
Vale perceber também que em um
contexto em que a magistratura detém a função de resolução de conflitos de
ordem social, a decisão do STF acerca do caso da Bienal enquadra-se
perfeitamente nas dimensões estratégica e constitutiva propostas por McCann,
uma vez que além de abrir precedentes por meio da decisão de Toffoli no Supremo
Tribunal, ele também formata a visão de mundo da sociedade a partir de
determinado ponto cultural, evidenciando que medidas de descriminação não mais
serão toleradas.
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