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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Realidade enevoada.


Em meu sonho, as operárias nunca paravam porque sempre trabalhavam. Não podiam conversar ou divertir suas colegas pois a produtividade dependia da impessoalidade e sincronia dos membros daquela colmeia.

Preste atenção agora, pois eu vi um mundo distante no qual as abelhas desenvolveram capacidade racional, muito embora isto não tenha garantido o fim da selvageria e crueldade nas relações sociais. Ao perceberem-se racionais, o exercício desta habilidade levou ao que ficou conhecido como “apicentrismo”, uma forma de pensar que tinha como foco a própria abelha, de maneira a contrapor, portanto, o culto exagerado à Rainha e seus zangões, ambos sustentados pelo trabalho alheio. O sistema de castas foi, enfim, abolido. Contudo, aquelas que outrora lideraram a revolução foram as mesmas que apontaram ser necessário dividir a produção dentro da colmeia em fábricas, e estas em setores. Assim, todas elas trabalharam na construção de quatro fábricas: Própolis, Cera, Geleia Real e Mel. Foi quando quatro abelhas idealizadoras do projeto, embora não tivessem construído sozinhas, reivindicaram cada qual uma fábrica como sua por “direito”.

Curioso notar que, apesar de terem abolido os altos impostos antes cobrados pela Rainha, as condições das operárias continuavam difíceis, não podiam simplesmente usufruir o que produziam, alguém as convenceu que sem um elevado esforço perpétuo não há recompensa e que importante era realizar comércio com outras colmeias do mundo. Esse modo de vida era justificado por fraseologias constantes, mas um grupo que se denominou “comunista” optou por entender a realidade a partir do concreto e da experiência histórica, superando a simples explicação racional. E essa foi a conclusão que ressoou pelos setores da colmeia:

“ Operárias! Porque vendem seu trabalho aos meios de produção? O que produzem é apenas cansaço e uma quase escravidão! Todas vocês devem se unir, só assim a luta de classes pode se extinguir. Para aquelas que lá estão no andar de cima, não é interessante olhar pra trás e vislumbrar nossa classe oprimida. Se a propriedade privada é a base da desigualdade, como poderíamos, todas, ter prosperidade?! Dominação e exploração não é liberdade, nem se resolverá a diferença com falsa caridade. Atenção! O Mel, hoje, tem caráter de classe. Amanhã, será propriedade comum! Saibam que nosso partido cuida de ‘despertar’ nas operárias ‘uma consciência clara e nítida do violento antagonismo que existe’ em nossa colmeia. Proclamamos abertamente que nossos ‘objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente’, pois uma interpretação científica da sociedade demonstra que urge transformá-la. Operárias de todas as colmeias, uni-vos! ”

Acordei e não pude ver a revolução das operárias. Porém, foi possível deduzir uma esperança: superar a especulação e fazer do Direito um instrumento de transformação.


Diogenes Spineli Soares Filho, 1º Ano, Direito Noturno.

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