Ao reconstituir a história do Brasil, nos deparamos com uma
ausência. Quando os portugueses chegaram aqui trouxeram prontas leis,
instituições, noções de direitos e administração, só faltava um povo. Sendo
assim, a noção de que a União tem apenas um público passivo que não clama por seus direitos, estende-se
por todo o decorrer da formação do brasileiro, com resquícios nos dias atuais.
A rua, que é um espaço público e como tal, lugar para a organização
de movimentos populares, possui uma visão negativa para os brasileiros: é ruim
ser um “menino de rua”, ou ser mandado para o “olho da rua”. E mais, quando a
mídia chama a população para ir a rua é porque ela é a “maior arquibancada do
Brasil”, e como uma arquibancada, somos novamente convidados a sermos telespectadores
do que acontece em nosso país.
E, de acordo com os estudos do sociólogo Sergio Buarque de
Holanda, os movimentos que seriam reformadores no Brasil começaram de cima para
baixo, com inspiração intelectual das elites para depois passar ao resto da
população. Contudo, nos últimos meses, vimos de fato se formar o povo
brasileiro, que foi achar os seus direitos na rua e lá clamar por melhorias no
transporte, educação e saúde, além de expor seu descontentamento com a
corrupção.
As manifestações nasceram primeiramente como forma de
contestar o aumento da passagem de ônibus e depois abrangeram toda a
insatisfação com os demais direitos sociais que estariam sendo mal ou não
atendidos. E o mesmo povo, descobriu a existência do seu Direito em um espaço
popular que não pertence aos dominantes - a rua- e lá os excluídos puderam se
fazer ouvir.
A arquibancada se converteu em show, com atuantes que antes
eram meramente objetos de manipulação daqueles que detêm o poder e da mídia.
Espera-se que o show continue e as arquibancadas não sejam mais ocupadas, que o
povo continue como povo, lutando para conquistar seus direitos e fazê-los
reconhecidos.
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