Sônia Guimarães é uma
física brasileira, mas não uma qualquer. Ela detém o mérito de primeira mulher
negra doutora em física no Brasil. Graduada pela Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar) e doutora pela Universidade de Manchester, Sônia apresenta uma
trajetória de muita luta, mas também de muito mérito e competência. Atualmente,
ela atua como docente no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e dá
palestras sobre educação por todo o território nacional.
Recentemente, a física
revelou, em uma entrevista com Pedro Bial, que seus alunos do ITA não a
respeitam e não a reconhecem como professora, o que se dá, principalmente, por
sua etnia. A escritora portuguesa Grada Kilomba, na obra Memórias da
Plantação: Episódios de Racismo Cotidiano, trata, dentre diversos recortes,
da rejeição que as pessoas negras sofrem no meio acadêmico, inclusive trazendo
como exemplo o racismo que ela mesma sofreu durante seu doutorado na Alemanha.
Esses episódios de
racismo ocorrem por conta da herança escravista do Brasil, em que os negros
escravizados não eram sequer reconhecidos como sujeitos de direito. Após a
abolição da escravidão, diversas políticas higienistas foram adotadas para
expulsar os negros dos centros urbanos, forçando-os para as periferias – ou
margens, de acordo com o texto de Kilomba. Assim, desde a formação do país, a
sociedade branca é acostumada a não conviver com os negros, principalmente em
meios de alto prestígio, como o acadêmico.
Por conseguinte, o
encontro com um indivíduo negro nas universidades pode causar estranheza a
muitos brancos, ainda mais se este ocupar o cargo de docente. Nos piores casos,
tal estranheza evolui para rejeição, descredibilização e hostilização, as quais
podem se dar de diversas formas. Segundo Kilomba, as principais estratégias
adotadas para descredibilizar sujeitos negros no meio acadêmico são ignorar
pautas relacionadas à negritude e considerar suas interpretações subjetivas,
parciais e demasiadamente emotivas. Ademais, a autora ressalta que essas atitudes,
em conjunto com outras ações discriminatórias, têm sempre a finalidade de
silenciar as vozes negras e forçá-las de volta às margens. Uma vez que, por conta
da herança colonial, tais sujeitos não pertencem aos ambientes de alto
prestígio.
Por fim, assim como
afirma Grada Kilomba, a postura que deve ser adotada por Sônia Guimarães (e por
todas as pessoas negras que desafiam o status quo) é de consciência,
resistência e pensamento crítico; procurando sempre lutar para ocupar espaços
no centro, alterar a realidade e influenciar outros indivíduos a seguir esse
caminho.
Tiago Zanola Ferranti, 1º ano - Matutino, RA: 241221366
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