Desde as mais antigas e significativas civilizações o Direito tem apresentado sua importância na vida dos indivíduos da sociedade estabelecida, a priori ao ser definido como um produto inato ao ser humano, o que podia ser explicado através das origens de tudo, da natureza a seu redor e das vontades divinas; em determinado momento, o Direito passou a ser positivado, isto é, ser "formalizado" e "oficializado" por meio de um conjunto de normas e leis, compilados de forma escrita (exemplos razoáveis seriam o Código de Hamurabi, na antiga Babilônia, e a Lei das Doze Tábuas, na Roma Antiga), conferindo maior credibilidade a si mesmo e concedendo maiores poderes para o ordenamento sócio-politico local - afinal, o Direito também reflete os costumes de cada sociedade, não sendo diferente da atualidade, apesar de um grau mais "racional".
Conforme estas sociedades se transformavam, novos elementos sociais, políticos, culturais, econômicos nasciam ou incorporavam-se nestas paralelamente ao desenvolvimento de novas tecnologias e de práticas de manutenção e de "evolução" do indivíduo e do coletivo (tudo e todos tendem a desejar seu crescimento próprio). Nesse contexto, insere-se a "dialética alemã" proposta por Hegel e aprimorada por Marx e Engels, na medida em que contradições surgiam após determinado período dentro dessas sociedades e gradativamente surgiriam novas, não simplesmente derivando do choque de ideais opostos, e sim por "complementaridade" entre tais características, de modo que uma base destas fora mantida e uniu-se às novidades para compor o vigente, descartando-se o que já não era mais cabível no momento - e assim sucessivamente. É possível, em tal ponto de vista, observar, por exemplo, a transição feudo-capitalista: com os crescentes contatos com o Oriente, a insatisfação com a submissão a senhores feudais e a ascensão de novos pensamentos nos âmbitos científicos e culturais moveram muitos europeus a romper com o sistema vigente, conquistando uma liberdade individual expressiva, principalmente no que se diz ao comércio, porém mantendo uma formação política fortemente baseada em hereditariedade e privilégios (aliança entre realeza e burguesia, havendo a centralização do Estado).
Não diferente, o Direito também sofreu com esta dialética, anexando e positivando novos ideais, conferindo garantias individuais, políticas e sociais ao longo do tempo, necessárias também para estar em harmonia com a realidade material dominante na sociedade (materialismo histórico dialético), todavia preservando algumas das influências de costumes já consolidados anteriormente, não sendo possível romper totalmente com eles. Portanto, sempre será vital colocar em conflito as novas demandas da sociedade com, especialmente, o Direito positivado, de maneira que este último possa cada vez mais, através da dialética analisada, aproximar-se dos interesses públicos gerais, emergindo como o produto genuinamente legítimo entre o que é de fato a realidade com as bases formais consolidadas por gerações anteriores que indiscutivelmente estão intrínsecos nela. A construção do Direito está na essência de um ser social, e ela nunca deve parar.
Eduardo Cortinove Simões Pinto
1º ano - Direito Matutino
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