O Fotógrafo de Deus
(DEM L 190, disponível em Hubblesite.org)
Este ano o telescópio espacial Hubble completa 25 de
atividade. Lançado em 1990, o Hubble passou a orbitar a Terra e a servir ao
homem como uma espécie de periscópio espacial, permitindo “ver” acima da
atmosfera e, assim, obter imagens e dados empíricos mais precisos dos mais
distantes confins do universo.
Este sistema engenhoso permitiu à humanidade grandes avanços
no conhecimento, trazendo luz aos grandes mistérios da astronomia. Mais de
10.000 artigos científicos foram produzidos a partir das informações coletadas
pelo Hubble. Foi possível, por exemplo, determinar com mais precisão a idade do
universo, identificar os quasares e verificar a existência da energia escura. Tais
resultados são exemplos evidentes da importância, nos dias de hoje, de se
extrair dados reais da natureza para fundamentar e desenvolver as teorias científicas.
Mas essa concepção nem sempre foi aceita.
Há aproximadamente 400 anos atrás, Francis Bacon defendia
que a ciência não deveria se guiar pelo mero labor da mente humana, mas, antes
de mais nada, pela observação e experimentação da natureza. Segundo ele, os filósofos
gregos, como Aristóteles, pregavam (incorretamente) que a experiência deveria
ser escrava da razão e isso, na visão de Bacon, corrompia a ciência. Para ele,
ao contrário, a experiência seria fundamental para regular a razão no caminho da
construção das bases do conhecimento científico. Alertava ele, entretanto, que o método de se
rejeitar o labor da mente seria difícil de implementar. De fato, quão
difícil terá sido para os primeiros cientistas frear a imaginação para extrair
algum dado concreto de uma noite majestosa salpicada aleatoriamente de estrelas.
Mas alguns seguiram na árdua tarefa, como Tycho Brahe,
Johanes Kepler, Nicolau Copérnico e Galileu Galilei. Este último, no início do
século XVII, por exemplo, deu contribuições importantíssimas à ciência ao
apontar sua luneta artesanal para os céus e confirmar que era Copérnico, das
observações, e não Aristóteles, do racionalismo, quem tinha razão na questão do
papel da Terra no plano celeste. Desde então, muito se avançou no caminho científico
apontado por Bacon e, nesse sentido, o Hubble é certamente um dos exemplos mais
contundentes desse progresso. Mas, apesar disso, o exercício de outrora não
parece ter ficado mais fácil, afinal, como olhar um céu estrelado ou as imagens
do Hubble sem se pegar divagando sobre o milagre criado por Deus?
Referências:
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