Em “A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo’, Weber discorre sobre a relevância da reforma protestante para a
formação de um capitalismo moderno, relacionando as doutrinas religiosas de
crença protestante, para demonstrar o surgimento de um modus operandi de
relações sociais, que favorece e caracteriza a produção de excedentes, gerando
o acúmulo de capital.
Há de se dizer que o modo de vida pregado
pelo catolicismo era propagado além dos limites da Igreja e, portanto,
atravessava a vida dos sujeitos. Nesse contexto, o catolicismo condenava a
usura e pregava a salvação das almas através da confissão, das indulgências e
do culto. Assim, seguindo esta cultura religiosa, a acumulação de bens não
encontrou caminhos amplos, e permaneceu adormecida.
Com o surgimento do protestantismo, a
doutrina e a cultura católica se modificou e a salvação passou a ser para
alguns, não mais passível de ser conquistada, mas sim uma providência divina,
onde o trabalho era meio crucial para glorificar-se. Para o protestante, o
trabalho era o que enobrecia o homem, o dignificava diante de Deus, seria parte
de uma rotina que dá as costas ao pecado. Ou seja, durante o período em que
trabalha o individuo não encontraria tempo de contrariar as regras divinas. Assim,
restava a quem acreditava nestas premissas, o trabalho e a acumulação, já que
as horas estendidas na produção excediam as necessidades destes religiosos,
gerando o lucro.
Dessa forma, quando se fala em concepção
tradicional do trabalho é uma referência à concepção católica, que não
acumulava e pensava o trabalho como meio de subsistência. Já quando se vê o trabalho como fim absoluto, trata-se da
concepção protestante, que vê o emprego de esforços produtivos a finalidade da própria
existência humana, ligada com os propósitos providenciais de Deus.
Essa mudança no comportamento da sociedade
leva, além do choque de culturas, a uma abrupta mudança no aspecto econômico.
Inicia-se um ciclo: o católico trabalha para viver, o protestante vive para
trabalhar. O protestante gera e acumula o excedente, investe em poupança e gera
lucro. O protestante tem como objetivo salvar-se, e se o trabalho é salvador,
empregar outros ajuda na salvação alheia. Então o protestante é dono dos meios
de produção, tem os funcionários e cada dia mais excedentes, gerando mais
capital. Assim é concebida a gênese do capitalismo moderno.
Graziela da Silva Rosa - Direito Noturno
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