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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Avareza e Capitalismo


Ao propor a tentativa de atribuir uma definição ao espírito do capitalismo em sua obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, o alemão Max Weber se comprometeu a um trabalho complexo. Para que fosse possível cumpri-lo, foi necessária uma regressão até os fatores históricos que culminaram no surgimento do capitalismo, seguindo então para fatores que o caracterizam e suas influências na sociedade da época. Partindo de tal estrutura é possível comparar a sequência apresentada por Weber à estória vivida por Ebenezer Scrooge em “Um Conto de Natal”, na qual Charles Dickens criou um personagem extremamente avarento e que, mesmo em plena época de Natal, recusa-se a ajudar seu pobre empregado e é visitado por três fantasmas que tentam convencê-lo a comportar-se de maneira diferente.
Assim como o primeiro fantasma mostrou a Scrooge os natais do passado, onde havia desgraças, mas também fartura, Weber mostra a transição das sociedades para o modo de produção capitalista. A perspectiva de troca foi substituída pela dinamização racional do investimento, assim como a ética cristã foi substituída pela protestante. O processo de racionalização combinado com o protestantismo resultou na superação do “dualismo religioso” e na disseminação de uma moral prática. Como na ficção, a realidade apresenta desgraças (miséria) e fartura, mas desta vez separadas de acordo com as classes sociais.
Já o fantasma do Natal presente mostra ao avarento protagonista o que acontecia naquela mesma noite: a morte do filho de seu empregado devido a uma doença que não pôde ser tratada, visto que este era muito pobre. O mesmo acontece no mundo capitalista, havendo até mesmo aqueles que se julgam capazes de justificar as desigualdades sociais. Então, sob a lente protestante, homens como Scrooge são “predestinados” ao sucesso, sendo a sua situação econômica um sinal da salvação, enquanto que homens como o pobre empregado ainda precisam trabalhar muito para acumular o necessário para atingir a salvação. Enquanto na ética católica este comportamento seria tido como corroído e degenerado, na ética protestante ele é o caminho para algo que deve se tornar bom.
No final da noite, Scrooge é visitado pelo fantasma do Natal futuro, que lhe mostra seu próprio enterro. Não há ninguém para chorar pelo amargo homem, que se vai deixando toda a sua fortuna sem sequer ter usufruído desta com o intuito de acumular sempre mais. Assim também é o capitalista que Weber apresenta em sua obra. Abandona-se a filosofia do “carpe diem” em prol da acumulação; nada mais é suficiente para o homem, e, como lembra Benjamin Franklin, “tempo é dinheiro”. O capital adquire tamanha importância ao ponto das relações humanas tornarem-se apenas conexões para fins econômicos, resultando em seres humanos frios e relacionamentos artificiais.
Depois de toda a reflexão acerca dos natais, os fantasmas dão a Scrooge a chance de recomeçar o dia e mudar seu destino e é aqui que se pode ver uma esperança para a realidade deste mundo. Diferentemente da estória, é, obviamente, impossível retornar ao passado por pior que seja a situação; porém, a humanidade ainda pode mudar seu destino. Os fantasmas do mundo são a sua História e seus exemplos, resta aos homens vê-los. Uma vez conscientes, a ação é consequência.

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