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terça-feira, 14 de junho de 2011

Um mundo a ganhar

O tema central do “Manifesto Comunista” de Karl Marx e Friedrich Engels é a luta de classes, que comporta o antagonismo de opressores e oprimidos e termina com uma transformação revolucionária ou com a ruína de uma das classes em disputa. A sociedade burguesa moderna que suplantou a sociedade feudal, não colocou fim a essas diferenças de classes, pelo contrário ampliou-as. A luta agora, porém, havia se polarizado em dois grandes campos inimigos: a burguesia e o proletariado.

As relações de produção capitalistas desenvolveram-se, primeiro, no seio da sociedade medieval. A Revolução Francesa se deu no momento em que essas novas relações de produção haviam chegado a um certo grau de maturidade. Os mercados cresceram, as demandas aumentaram e o sistema de manufatura ganhava cada vez mais espaço. A burguesia, agora classe dominante, era incapaz de sustentar seu reino sem revolucionar sempre os instrumentos de produção.

A dialética da história, formulada por Marx e presente no “Manifesto Comunista” se constitui na contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, isto é, as relações de propriedade e a distribuição de rendas entre os indivíduos ou grupos da coletividade. A burguesia cria meios de produção mais poderosos, mas a repartição das rendas e as relações de produção não se transformam no mesmo ritmo. O regime capitalista é capaz de produzir cada vez mais riqueza, mas a miséria permanece para a maioria. Nessa contradição entre forças e relações de produção, é fácil introduzir a luta de classes, que sugere a teoria das revoluções.

A burguesia “substitui a exploração velada por ilusões religiosas e políticas, pela exploração aberta, impudente, direta e brutal”, alterando não apenas as relações trabalhistas, mas também as relações familiares, reduzindo tudo a relações de dinheiro, “resumindo, cria um mundo à sua imagem”. Tomada por uma concorrência implacável, a burguesia não pode deixar de aumentar os meios de produção, fazendo crescer o número de proletários e sua miséria, assim o crescimento dos meios de produção, em vez de aumentar o nível de vida dos operários, gera proletarização e pauperização.

O uso extensivo de maquinarias e a divisão do trabalho transformou o trabalhador em um “apêndice da máquina”, colocando fim ao seu caráter individual e separando-o do produto final do seu trabalho. Prolonga-se as horas de trabalho do proletariado, ou aumenta-se o trabalho exigido durante um lapso de tempo determinado. Crianças e mulheres são usadas como mão-de-obra nas indústrias, não há mais distinção de sexo e idade para a classe trabalhadora. O proletariado, que vende a si próprio aos poucos, torna-se então uma mercadoria, exposta à competição e as flutuações do mercado.

Dessa forma, segundo Marx, “a burguesia não só forjou as armas que trazem a morte para si própria, como também criou os homens que irão empunhar estas armas: a classe trabalhadora moderna, o proletariado”. O proletariado, que constitui imensa maioria da população deveria tomar o poder como classe verdadeira para transformar essas relações sociais, uma vez que a burguesia mostrara-se inapta a ser a classe dominante da sociedade, já que foi “incompetente para assegurar uma existência para os seus escravos dentro da escravatura”. Diferentemente das demais revoluções do passado, feitas por minorias, em benefício de minorias, a revolução do proletariado seria feita pela imensa maioria, e em benefício de todos, marcando assim o fim das classes e do antagonismo da sociedade capitalista.

Marx afirma que “a característica distintiva do comunismo não é a abolição da propriedade em geral, mas a abolição da propriedade burguesa”, uma vez que é ela a responsável pelo sistema de produção e apropriação de produtos (apropriação de trabalho alheio), que gera o antagonismo de classes e a exploração do homem por outro. Marx justifica a abolição da propriedade privada alegando que a maior parte da população (nove décimos) já não a possui, devido à apropriação desta por apenas um décimo da sociedade.

Em “O Manifesto Comunista” Marx se refere ainda ao problema da educação, que sob monopólio e influência da classe dominante, não exerce o seu papel social e cultural, o que diminui ainda mais as oportunidades das classes baixas, contribuindo para sua alienação. Alega ainda que “As ideias dominantes de cada época sempre foram as ideias da classe dominante”, sendo assim a revolução comunista também provocaria uma ruptura radical com as ideias tradicionais.

Os comunistas lutaram para alcançar objetivos imediatos, mas também para dar força aos interesses da classe trabalhadora, formando nesta uma consciência clara do antagonismo hostil entre burguesia e proletariado. Assim apoiam universalmente os movimentos revolucionários contra a ordem política e social existentes, nos quais se destacam a questão do capital e da propriedade, afirmando que “Os proletários nada têm a perder fora as suas correntes. Têm o mundo a ganhar.”. É importante ressaltar que uma característica marcante de toda obra de Marx é a crítica ao servilismo. Assim ele certamente se indignaria ao ver seus pensamentos usados de uma certa maneira por tantos espíritos servis e tirânicos, que adotaram regimes ditos “socialistas”.

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