Passamos por pessoas assim todos os dias e acreditamos que elas estão ali porque nunca trabalharam o suficiente para dignificar sua vida. Ou então dizemos que a preguiça domina os mais fracos e justificamos assim a normalidade animalesca que sempre vivemos. O que é mais assustador é como um discurso assim pode ser normalizado e transformado em cotidiano. Orientando dessa forma o nosso jeito de pensar e agir.
O mecanismo de dominação social mais comum é a criação de um sonho de prosperidade que seria acessível a todos que trabalhassem o suficiente para conquistar o seu espaço no mercado. Mas que mercado é esse que não prioriza o conhecimento? Como pode um estudante sem formação, sem experiência e que não está exatamente na sua área de especialidade ser mais adequado a um cargo simplesmente por ser filho do presidente da empresa? É assim que a sociedade brasileira está justificando a possibilidade de ascensão.
Baseando todo o seu funcionamento em uma meritocracia falida, que julga como valor a origem social e não a bagagem cultural e intelectual das pessoas. Transformamos todos em números e qualificamos seus valores de acordo com o interesse de retorno. Deixamos que a normalidade tome conta das injustiças e que o discurso dominante renda o valor do melhor preparado ao pensamento: "a minha vez vai chegar...".
Mas não é só o pobre que se ilude nesse sistema doentio, o milionário que trabalha com a Bolsa de Valores afirma ser feliz. Mas sua vida é movida a cafeína e cocaína. Sua família já tentou todos os tratamentos, mas a desculpa do trabalho ser mais importante sempre convence de que isso é normal. Ele alega que quanto mais dinheiro maior a felicidade da família e que assim eles serão prósperos e completos, afirmando que: "em quanto o dinheiro for bom, tudo vale a pena".
Pois bem, essas realidades parecem inventadas, certo? A verdade é que essa é a realidade de grande parcela da sociedade, trabalhadores ricos e pobres, acreditam que a felicidade seja oriunda de um sistema dividido em classes determinadas, cuja receita para ser feliz é simplesmente subir para o próximo degrau da acumulação financeira. O custo para esse fim se tornou desprezível. Deixamos de perceber que nem tudo vale a pena, pois afirmamos, piamente, que o trabalho dignifica o homem e o resultado dele é a felicidade. Mas e o preço disso? Um mundo doente, sem pé nem cabeça, famílias quebradas, pessoas perdidas e a fome instaurada. Tudo isso é normal! Desde que você continue trabalhando para ascender ao próximo degrau.
Álvaro Galhanone - 1˚ano Direito Noturno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário