“A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes”. Essa frase foi redigida por Karl Marx no século 19 e, não surpreendentemente, ainda é extremamente atual, afinal, consideramos aqui a história do mundo uma eterna luta de classes. Antes de partirmos em uma análise mais aprofundada, expliquemos de forma rápida o método dialético de Marx.
O método dialético analisa a sociedade a partir das classes sociais e a história por trás delas. Para Marx, as relações que os indivíduos estabelecem variam conforme as classes que eles ocupam, nada seria mero acaso do destino. Assim sendo, estabelece-se duas classes importantes: os burgueses - donos dos meios de produção e os quais compõem a classe dominante - e os proletariados - classe dominada que vende a sua força de trabalho. A dialética seria a contradição proveniente do conflito de ideias dessas classes, ela é a responsável por causar a mudança dentro de uma sociedade. Entretanto, essa transformação só ocorreria quando a classe dominada compreendesse o seu papel de povo explorado e rompesse com a falsa ideologia, ideologia essa que é a expressão do estado burguês defendendo seus próprios interesses.
Após essa breve explicação, podemos prosseguir para uma interpretação de nossa atual realidade e de como podemos interpretá-la utilizando o método dialético marxista.
No documentário “Estou Me Guardando Para Quando O Carnaval Chegar” o narrador descreve a cidade Toritama alguns anos atrás antes do fenômeno do jeans na cidade. Antes a cidade é retratada como calma e lenta, um ritmo tranquilo e silencioso. Com a chegada das fábricas de jeans, a cidade torna-se rápida, barulhenta e as relações transformam-se.
Casas que antes abrigavam viajantes agora tornam-se pequenos campos fabris. Toda a população tem algum vínculo com a produção em massa e poucas são as vezes que descansam. Quando questionados sobre seus sonhos a maioria se perde, alguns se imaginam quando finalmente conseguirem acumular uma quantia suficiente.
A população de Toritama não é infeliz. Eles naturalizam os modos de produção e para eles, o trabalho nas produções fabris é uma maneira deles se tornarem “donos do seu próprio tempo”. Porém, a população, na verdade, acaba trabalhando até altas horas e, inclusive, aos domingos. Alguns, inclusive, trabalham em obras para garantir emprego nas futuras fábricas de garagem (termo utilizado pelo narrador).
Apesar da enorme quantidade de produção, a população, em sua maioria, continua simples e o grande momento de extravagância é o carnaval. Nesse momento eles vendem objetos extremamente importantes, como geladeiras, para poderem passear e ter um momento de lazer.
Baseando-se na realidade de Toritama, as falsas ideologias são manipuladas para que o trabalhador não perceba o quão explorado está sendo. Apesar do aumento da carga horária com pouco dinheiro recebido, perpetua-se a crença de que os explorados estão sendo donos do seu próprio tempo, como no caso dos motoristas de Uber. As várias formas de exploração variam conforme a época e as ferramentas utilizadas para esse fim. Baseando-se no método de Marx, a transformação só ocorreria quando a classe dominada notasse a exploração que sofre.
Na contemporaneidade dos fatos, nota-se que cada vez mais as relações de trabalho e produção têm sido flexibilizadas e precarizadas, fazendo com que a massa seja fortemente explorada sem notar. Os novos meios de exploração são inseridos em um contexto de altas taxas de desemprego, tornando a realidade ainda mais cruel. Entretanto, as recentes mobilizações em torno da educação tem levantado fortes questionamentos, a reforma do ensino médio corrompe a dialética necessária para a transformação?
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