Um entregador do Ifood foi
humilhado e sofreu racismo, em Valinhos- SP. De acordo com a matéria do G1, o
homem apontava para sua pele clara e dizia “ você tem inveja disso aqui! ”,
além de chamar o rapaz de semianalfabeto e mencionar que ele não tem onde morar
e nunca vai ter as condições materiais que ele, o homem branco, tem. Nessa perspectiva, dois
pontos importantes podem ser destacados: o racismo estrutural e a precarização
do trabalho.
Em primeiro lugar, o racismo
estrutural é um dos pontos centrais da sociedade desigual atual. Casos como
esse do entregador são frequentes, e apesar de caber alguma responsabilidade
legal para o autor do crime, pois existem provas, não é sempre que o racismo
consegue ser denunciado. Além disso, muitas vezes ele está tão enraizado na
nossa sociedade que não é possível tomar atitudes punitivas e imediatas,
caracterizando o racismo estrutural. Isso se deve, principalmente, ao modo como
o Brasil foi colonizado, e levando em consideração o modo como a Escravidão
acabou e a população negra ficou à margem da sociedade, sem condições de
arranjar emprego ou outro tipo de garantia jurídica. Assim, o estado atual do
país se deve a esse passado escravocrata que trouxe consequências mais
disfarçadas, impalpáveis. Claro que não se deve tirar a responsabilidade do
homem que cometeu o ato racista, mas faz parte de um conjunto de ações
históricas que serve para oprimir a classe trabalhadora, majoritariamente negra
no Brasil, até hoje.
Desse mesmo modo, a
precarização do trabalho está em voga, por ser o modelo mais fácil (com a
tecnologia) e desigual de aumentar a diferença entre o proletário e a burguesia.
Ao longo dos séculos, vários meios de obter a mais valia foram utilizados, e o
último, que caracterizou o ABC paulista, deixou de ser o mais lucrativo e deu
lugar para a mudança das empresas para lugares mais vantajosos, tanto em mão de
obra, quanto em matéria prima e desenvolvimento tecnológico. Devido a isso, as
pessoas que trabalhavam nas antigas instalações ficaram sem emprego, somado ao
fator que as outras empresas gostariam de cortar gastos e também demitiram
vários funcionários, o trabalho informal foi crescendo cada vez mais nesse
cenário. Assim, existe uma alta competitividade por vagas, mesmo que essas não
tenham vínculos empregatícios, carteira assinada, férias remuneradas, etc., o
que aumenta as horas trabalhadas para tentar manter o emprego e o salário é
menor. Dessa forma, as relações de produção apontadas por Marx e Engels
continuam ocorrendo de forma a beneficiar a burguesia, que é a classe
minoritária da sociedade, e torna-se mais simples ainda com as novas
tecnologias, que com apenas um toque é possível decidir o futuro daquela
pessoa.
Portanto, a precarização do trabalho e o racismo podem ser encontrados juntos, muitas vezes, já que ajudam a impulsionar o capitalismo e a permanência da divisão de classes, mesmo que existam manobras para não deixar isso explícito e não gerar o descontentamento geral do povo e possível colapso no sistema tão querido pelos burgueses. Somado a toda essa opressão e desigualdade ainda existe a pandemia e outros fatores, o que torna muito difícil não ser pessimista.
Lívia Maria Marson Bonifácio, turma XXXVIII, matutino
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