Total de visualizações de página (desde out/2009)

domingo, 22 de agosto de 2021

Modo de produção e modos de formação social: suas relações e leituras possíveis


 A desregulamentação da indústria e o enfraquecimento das instituições, e de qualquer “jaula” burocrática proposta pelo estado, são engendradas cada vez mais rapidamente pelo modelo neoliberal da economia. A grande questão aqui é, quem propõe e ganha com isso? O que tal realidade proporciona para indivíduos que habitam a periferia da pós modernidade? 

Em primeiro lugar é necessário estabelecer que as relações sociais avançam ou retrocedem, por meio da influência da formação social, o indivíduo urbano e o indivíduo rural, por exemplo, enxergam suas relações de formas distintas e tal realidade nada mais é que a materialidade dos fatos. A sociedade é, portanto, produto da forma de produção à qual pertence. 

Assim como a invasão de Constantinopla e consequente queda do Império Bizantino e a Revolução Francesa que trouxe novas perspectivas político-sociais, o evento que muitos acreditam ser a virada de eras, o que inauguraria de fato a pós modernidade que ensaia há alguns anos, é a pandemia. Num cenário globalizado, de um contexto onde um vírus é detectado em um lado do oceano e a economia do outro continente sente, obriga pessoas a normalizarem a etereidade das coisas, sejam empregos, relações, rotina ou até vidas; a liquidez das relações passa agora por uma institucionalização. 

Ao contrário do que muitos otimistas pensam, o colapso do capitalismo e do neoliberalismo está apenas no seu início, uma vez que, invés de sentirem falta da estabilidade que outrora era uma realidade, agora a população entende que “dá pra viver” dessa forma, e esse fenômeno de acomodação nada mais é que um sintoma do modelo de produção que individualiza todas as responsabilidades e socializa a culpa de cima pra baixo. Para muitos pode parecer absurdo, mas infelizmente há uma massa que sempre viveu com o “dá pra viver”, e quando vieram poucas mudanças que fizeram as minorias enxergarem que existe um outro mundo para se ocupar, enfrenta-se uma crise global de austeridade e restrições. 

Com esta análise não pretendo menosprezar a existência de movimentos que buscam uma revolução, por que inegavelmente há. Porém, a organização dos modelos de produção atual inviabiliza qualquer noção de coletividade e qualquer possibilidade de dialogo fora das bolhas individuais e totalmente personalizadas que cada um acabou formando, pois mesmo que críticos, somos também produtos de uma relação social que existe dentro da lógica neoliberal, portanto há uma dificuldade estrutural de entender a coletividade sem confundir o subjetivo com o individual.  

E no que tange as periferias globais e a falta de estabilidade, antes as mortes diárias por inanição, violência do estado, moradia insegura (quando há) e todos os problemas que afetam as populações negligenciadas; hoje foram aceleradas por uma crise sanitária que afetou a todos e infelizmente dentro da lógica neoliberal há precedentes culturais e até morais que podem transformar as vítimas em culpados, porém não significa que essas populações já não sentiam muito mais intensamente a realidade instável e a ausência das instituições. Não à toa, a moral que sente falta do “senso de responsabilidade”, é rodeada de estereótipos burgueses, pois certas estabilidades que se cobra hoje, muitos morreram sem nem saber que existia. 


Stephani E. C. Luz

Nenhum comentário:

Postar um comentário