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domingo, 22 de agosto de 2021

"Trabalhador Brasileiro", além da canção de Seu Jorge

Acordei 3:30 da manhã, o sol nem estava perto de nascer ainda. Tomei um banho para acordar, fiz meu café preto e fui para o ponto do ônibus.

A espera do ônibus, coloquei meu fone de ouvido e decidi ouvi a música de Seu Jorge "Trabalhador Brasileiro" e no meio da correria que é a vida de quem trabalha em fábrica, prestei atenção na letra da música pela primeira vez.

"E sem dinheiro vai dar um jeito

Vai pro serviço

É compromisso, vai ter problema se ele faltar
Salário é pouco não dá pra nada
Desempregado também não dá
E desse jeito a vida segue sem melhorar"
Pela primeira vez, percebi que a música retratava a minha realidade, trabalho desde os meus 13 anos, não tive condições de terminar a escola, desde cedo tive que ajudar a colocar comida na mesa e a pagar as contas no final do mês. E minha realidade pouco mudou ao longo de meus 30 anos de trabalho, ganho só o que dá para pagar as contas, nunca sobra. Não consigo bancar um dia de lazer na praia, mesmo que eu faça horas e mais horas extras, nunca sobra.
Lembrei, que um dia estava assistindo um programa na TV Cultura, e o tema abordado era o pensamento de Marx, que cara genial ele foi, o que ele afirmava é o que segue acontecendo na realidade de hoje. O meu patrão segue me explorando e eu, por necessidade, me submeto a essa condição. O pensamento dominante continua sendo o classe mais rica, que oprime a mais pobre, ou será que tem alguém acredita que os pobres não sofrem nesse país? Será que existe alguém que acha bacana trabalhar o mês todo e não poder tomar um sorvete na esquina, porque descompleta o dinheiro das contas e do aluguel? Não era para ser assim, todos deveriam poder ter um momento de lazer, isso não deveria ser privilégio das classes mais ricas, cujo pensamento predomina na sociedade.
Cheguei no trabalho, depois de 2:30 de trajeto no ônibus lotado, o relógio marcava 6:30, cheguei 30 minutos antes, mas isso de pouco adianta, ninguém valoriza o meu esforço, para o patrão eu sou mais um a ser explorado, a receber o mínimo por dar o meu máximo.
Meu colega, José é pai de 3 filhos, eu preferi não ter nenhum, para não os ver sofrer como eu sofro nas mãos desse sistema capitalista, que oprime e diminue o trabalhador, para que ele caiba dentro da caixa do sistema. Ele me disse, que o filho mais velho dele, Manuel, leu para a faculdade um autor chamado Senette que nesse texto, o personagem principal Enrico muito lembrava José, já que ele sempre batalho para dar o melhor para os seus filhos. E não é a vida que imita a arte, a arte que imita a vida, ou vocês ainda acreditam que tudo isso é fantasia? Convido vocês a virem na fábrica, assistirem nosso esforço e verem nosso salário no final do mês.
Aí vocês vão perceber que o pensamento de Marx não é ultrapassado, que Senett não escreveu uma ficção e que a vida do trabalhor no Brasil é ainda mais difícil do que Seu Jorge canta.

Ellen Luiza de Souza Barbosa 
Turma XXXVIII
Noturno

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