Na perspectiva de Marx e Engels, as condições materiais de existência devem ser o ponto de partida para a análise de uma sociedade. Isso porque essas condições materiais definem a forma como o homem irá se relacionar com o mundo. Logo, delas originam as relações sociais, o modo como o indivíduo age no dia a dia, e as forças de produção, os instrumentos necessários para que o indivíduo promova sua sobrevivência.
Nesse sentido, para
analisar a sociedade contemporânea é necessário encontrar as condições materiais
de existência do individuo hoje. Contudo, o sistema econômico, político e
social imposto nas maiorias dos países calca-se na imaterialidade das relações
e forças de produção. Chamado de neoliberalismo, tal corrente utiliza a lógica
mercadológica da acumulação flexível, isto é, tornar mais flexível o modo de
produção com o objetivo de obter lucros e evitar perdas. Assim, as relações
sociais tornam-se mais liquidas e as forças de produção são constantemente
alteradas.
No plano das relações sociais, o indivíduo encontra-se em
constante estado de risco em virtude da possibilidade de mudança permanente – a
qualquer momento suas condições de existência podem se alterar ou pela mudança
da estrutura produtiva ou das relações de produção e, consequentemente, alterar
seus vínculos sociais. Logo, o indivíduo vê-se obrigado a adaptar
constantemente a mudanças, não conseguindo projetar sua sobrevivência a longo
prazo e nem estabelecendo relações sociais duradouras, seja com o seu trabalho
ou com a comunidade em que vivem. O resultado disso é uma crescente onda de
ansiedade pois o indivíduo permanece sempre em estado de alerta às possíveis
mudanças na sociedade, as quais influenciam diretamente seu modo de se
relacionar na sociedade.
Essas constantes mudanças na dinâmica social, econômica e política
tem como uma de suas bases a Primeira Revolução Industrial e as subsequentes. A
primeira inovou a maquinaria de trabalho, o que promoveu o surgimento de novas
formas de trabalho e, consequentemente, novas relações de trabalho. As outras
tiveram o mesmo efeito. A diferença das últimas centra-se na velocidade em que
ocorreram. Se entre a Primeira e a Segunda, há um espaço temporal de um século,
entre a Terceira e a Quarta o espaço foi de menos de 50 anos. Essa rapidez com
que as condições materiais se alteram impacta fortemente na sociedade e,
consequentemente, no indivíduo.
No plano das forças de produção, há um emprego crescente de
tecnologia o que acarreta o desemprego estrutural de muitos trabalhadores.
Desse modo, a empresa busca estabelecer vínculos flexíveis com os funcionários
em virtude da possibilidade , em breve, substitui-los pela tecnologia.
Somado a isso, há novas modalidades de trabalho que fazem o
uso direto da tecnologia, a exemplo das “influencers” digitais utilizam que as
redes sociais como seu principal objeto de trabalho para realizar propagandas
de diversos produtos. Contudo, o resultado desse trabalho, a propaganda, e o
meio pelo qual ela circula, as redes, são imateriais, tornando menos sólidas as
relações de trabalho.
Destarte, nota-se uma fragilidade nas relações sociais, as quais podem se romper ou serem substituídas a qualquer momento, e o emprego de meios de trabalho menos sólidos e, portanto, mais frágeis. Por fim, a realidade torna-se menos material e mais flexível, permanecendo em permanente estado de mudança.
Turma XXXVIII - Diurno
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