Texto 1
“12. Sobre o
uso das riquezas, já a pura filosofia pôde delinear alguns ensinamentos de suma
excelência e extrema importância; mas só a Igreja no-los pode dar na sua
perfeição, e fazê-los descer do conhecimento à prática. O fundamento dessa
doutrina está na distinção entre a justa posse das riquezas e o seu legítimo
uso.
A propriedade particular, já o dissemos mais
acima, é de direito natural para o homem: o exercício deste direito é coisa não
só permitida, sobretudo a quem vive em sociedade, mas ainda absolutamente
necessária(11). Agora, se se pergunta em que é necessário fazer consistir o uso
dos bens, a Igreja responderá sem hesitação: «A esse respeito o homem não deve
ter as coisas exteriores por particulares, mas sim por comuns, de tal sorte que
facilmente dê parte delas aos outros nas suas necessidades. É por isso que o
Apóstolo disse: «Ordena aos ricos do século... dar facilmente, comunicar as
suas riquezas» (12).
Ninguém certamente é obrigado a aliviar o
próximo privando-se do seu necessário ou do de sua família; nem mesmo a nada
suprimir do que as conveniências ou decência Impõem à sua pessoa: «Ninguém com
efeito deve viver contrariamente às conveniências»(13). Mas, desde que haja
suficientemente satisfeito à necessidade e ao decoro, é um dever lançar o
supérfluo no seio dos pobres: «Do supérfluo dai esmolas» (14). É um dever, não
de estrita justiça, excepto nos casos de extrema necessidade, mas de caridade
cristã, um dever, por consequência, cujo cumprimento se não pode conseguir
pelas vias da justiça humana. Mas, acima dos juízos do homem e das leis, há a
lei e o juízo de Jesus Cristo, nosso Deus, que nos persuade de todas as
maneiras a dar habitualmente esmola: «É mais feliz», diz Ele, «aquele que dá do
que aquele que recebe» (15), e o Senhor terá como dada ou recusada a Si mesmo a
esmola que se haja dado ou recusado aos pobres: «Todas as vezes que tenhais
dado esmola, a um de Meus irmãos, é a Mim que a haveis dado» (16). Eis, aliás,
em algumas palavras, o resumo desta doutrina: Quem quer que tenha recebido da
divina Bondade maior abundância, quer de bens externos e do corpo, quer de bens
da alma, recebeu-os com o fim de os fazer servir ao seu próprio
aperfeiçoamento, e, ao mesmo tempo, como ministro da Providência, ao alívio dos
outros. «E por isso, que quem tiver o talento da palavra tome cuidado em se não
calar; quem possuir superabundância de bens, não deixe a misericórdia
entumecer-se no fundo do seu coração; quem tiver a arte de governar, aplique-se
com cuidado a partilhar com seu irmão o seu exercício e os seus frutos» (17)”. Encíclica
papal de 15 de maio de 1891
Texto 2
"Ah,
quão proveitoso será para o homem que, reconhecendo que não é dono de si, negue
à sua razão o senhorio e o governo de si mesmo e o confie a Deus! Porque, assim
como a pior praga, capaz de levar os homens à perdição e à ruína, é se
comprazerem a si mesmos, assim também o único e singular porto de salvação não
está em o homem julgar-se sábio, como tampouco em querer nada de sua vontade
própria, mas em seguir unicamente ao Senhor [Rm 14.7,8]”. João Calvino, As
Institutas, Vol 4
O texto 1 evidencia a concepção
tradicional, católica, do trabalho, a qual perdurou até o final do século XIX,
da não acumulação e do trabalho como meio de garantir a subsistência. O modo de
vida católico condenava a usura, e pregava a salvação por meio de indulgências,
confissões e presença aos cultos. Dessa forma, não se coibia o usufruto das riquezas
geradas pelo trabalho, o que acarretava na não acumulação de bens e capital.
Todavia,
para que possamos entender a ótica protestante, poder-nos-íamos recorrer ao texto 2. Nesse ínterim, fica evidente
que a ideia de predestinação. A concepção do trabalho como fim absoluto, protestante,
que enxerga o trabalho como o próprio existência humana, exteriora a ideia de
que a salvação é alcançada através da providência Divina. Assim sendo, a ética
protestante abre caminhos para a acumulação e, por conseguinte, contribui com a
difusão do capitalismo.
A fim de
sintetizar o exposto, nada mais precisa, mesmo que clichê, que a seguinte
expressão: O católico trabalha para viver, o protestante vive para trabalhar.
Gabriel Chiusoli Ruscito 1 ano Direito noturno
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